Lançamento da Gênio Criador Editora traz conceitos, desafios, visões e reflexões de especialistas com focos em diferentes etapas da vida
Por Danilo Moreira
O ser humano e suas complexidades fascinam especialistas há anos. Uma dessas facetas é o desenvolvimento psicológico, amplo e relevante campo de estudo e que ajuda a entender nossa atual sociedade e suas necessidades.
É para contribuir com o tema que um grupo de pesquisadores publicaram, por meio da Gênio Criador Editora, o livro Desenvolvimento Psicológico: conceitos e contextos. Organizada pelas pesquisadoras Hilda Rosa Capelão Avoglia e Cleusa Sakamoto, a obra reúne 10 artigos de professores e especialistas de diversas universidades pelo país, e que trazem olhares, análises e dados sobre distintas etapas do ciclo vital humano.
Os capítulos percorrem uma sequência temporal do desenvolvimento psicológico, a começar com a temática da família e o período gestacional, passando pelas fases da infância, adolescência, idade adulta e no envelhecimento.
O livro também conta com prefácio da Profa. Dra. Iani Dias Lauer Leite, do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Ambiente e Qualidade de Vida e coordenadora do Laboratório em Pesquisas sobre Crianças e Infâncias Amazônidas, da Universidade Federal do Oeste do Pará.
O blog da Gênio Criador Editora conversou com alguns dos autores dos artigos, que comentaram sobre as abordagens de seus capítulos, as contribuições para os leitores e outros destaques do seus trabalhos.
Confira a seguir:
Família sob a lente da psicanálise
Antes de focar no indivíduo, o livro começa abordando a parte familiar. É o caso do capítulo Família: história e desenvolvimento na compreensão psicanalítica, escrito por Telma Maria Duarte Rodrigues e Hilda Rosa Capelão Avoglia.
O artigo aborda a compreensão da família sob o prisma da Psicanálise. São tratados aspectos históricos seculares, que permeiam temas como a do sentimento da infância, a concepção patriarcal familiar e o modelo nuclear atual, atrelados a conceitos de autores como os psicanalistas Sigmund Freud (1856-1939) e Jacques Lacan (1901-1981), além de abordagens sobre família e a criança pelo historiador Philippe Ariès (1914-1984).
Telma Maria Duarte Rodrigues (foto) é coautora do capítulo, ao lado de Hilda Rosa Capelão Avoglia
O principal desafio na produção do capítulo, conta Telma, foi encontrar artigos relevantes, que retratassem a temática do cuidado com a família.
“Acredito que esse tema é sempre relevante diante do que vivemos e de que forma compreendemos a família nos dias atuais. Ela não se evidencia como instituição, que deve ter regras e padrões. Para a Psicanálise, o que é importante mesmo são os sujeitos que a compõe e a formam”, explica Telma.
Klein e desenvolvimento emocional do bebê
As características da evolução das emoções humanas no primeiro ano de vida são tratadas no capítulo As ansiedades arcaicas e o desenvolvimento emocional do bebê à luz da teoria kleiniana, de Jorge Luís Ferreira Abrão. No artigo, Abrão apresenta e discorre sobre as teorias da psicanalista austríaca Melanie Klein (1882-1960), por intermédio dos conceitos de posição esquizo-paranoide e posição depressiva.
“A ideia é aprofundar o conhecimento teórico sobre diferentes aspectos da obra kleiniana e seus desdobramentos na atualidade, dada a sua relevância para a psicanálise nos dias de hoje”, afirma.
Jorge Luís Ferreira Abrão se debruça na teoria kleiniana para abordar o desenvolvimento emocional do bebê
“A teoria kleiniana, de modo geral, tem grande relevância. Klein foi a criadora da técnica psicanalítica através do brincar, que tornou a psicanálise viável para o atendimento de crianças pequenas”, explica o pesquisador.
O autor conta que o principal desafio do capítulo foi construir um texto de fácil compreensão do leitor. “Geralmente, a teoria kleniana possui uma complexidade conceitual bastante densa, dificultando o entendimento do leitor iniciante que busca compreender as ideias da psicanalista acerca do desenvolvimento na tenra infância”, comenta o especialista.
Neurociência em prol da educação infantil
No capítulo Desenvolvimento da criança: articulações da neurociência na educação infantil, as professoras e pesquisadoras Ana Maria Ferreira e Luana Carramillo-Going promovem reflexões sobre como os estudos sobre a capacidade cerebral de aprendizado vêm possibilitando uma aproximação da neurociência com a educação infantil, podendo contribuir com a aprendizagem e a evolução nessa etapa do ciclo vital da criança.
Segundo Ana Maria, além das reflexões, o artigo também visa despertar o interesse de professores e educadores pelo desenvolvimento infantil, pautado na evolução psicomotora. “O capítulo ressalta, por exemplo, a importância do professor em inovar na sua prática pedagógica com estratégias que potencializem a autonomia cognitiva de seus alunos”, afirma a coautora.
Ana Maria Ferreira (foto) e Luana Carramillo-Going discorrem sobre as contribuições da neurociência na educação infantil
A especialista também destaca que, no âmbito acadêmico, o artigo contribui para o preenchimento de uma lacuna existente sobre as pesquisas da Neurociência no campo da educação infantil, já que busca elucidar aspectos sobre o funcionamento do cérebro e de como ele aprende.
“Por ser uma abordagem interdisciplinar, o artigo sistematiza as pesquisas sobre o desenvolvimento por meio de diferentes perspectivas e campos do conhecimento, tendo um papel inovador na busca de novas estratégias que possam fortalecer a aprendizagem”, destaca.
Ana Maria aponta que entender os complexos mecanismos cerebrais envolvidos na aprendizagem, bem como transformá-los em uma linguagem acessível para leitores leigos, foram um dos desafios na produção do capítulo. “Percebi também que muitos profissionais ainda desconhecem os principais mecanismos cerebrais envolvidos no processo de aprendizagem. Não há como obter avanços significativos sem saber, minimamente, como esse cérebro em desenvolvimento aprende e armazena informações. É importante oferecer condições para que possam desenvolver as competências necessárias para aprender e conviver no mundo atual”, reflete a coautora.
Os seis primeiros anos
Em Considerações acerca do desenvolvimento afetivo emocional de crianças, a pesquisadora Leila Salomão De La Plata Cury Tardivo traz as visões teóricas acerca do desenvolvimento afetivo e emocional infantil, com foco nas abordagens de clássicos autores da Psicanálise, como Freud, Melanie Klein e Donald Woods Winnicott (1896-1971), além de transitar por autores contemporâneos.
“O objetivo é levar para estudantes de Psicologia e para profissionais de outras áreas da Ciência, como as de Humanas e da Saúde, concepções interessantes baseadas no que a gente chama de abordagem psicodinâmica do desenvolvimento das crianças, especialmente de 0 a 6 anos”, explica a pesquisadora.
Leila Tardivo é autora do capítulo
Tardivo aprofunda-se na Psicologia Evolutiva e discute as distintas fases ou períodos do desenvolvimento, apontando a consciência e as funções psíquicas específicas. A análise contempla, ainda, a concepção fundamental de “séries complementares”, “estádio oral”, “estádio anal” e o “período de latência”, associadas a experiências da prática clínica, que enriquecem a compreensão da complexidade que envolve essas fases.
Leila destaca a importância do tema. “Estudos apontam a importância dos seis primeiros anos para o desenvolvimento cognitivo e neurológico. O capítulo em si não é uma pesquisa, mas uma discussão teórica baseada nos estudos que já fizemos com crianças pequenas. Dessa forma, o artigo pode contribuir para as discussões sobre o assunto.”
Adolescência na perspectiva psicanalítica
Fase de transição para a vida adulta, a adolescência é marcada por desequilíbrios e instabilidades sematológicas. O tema é foco do capítulo Adolescência, transitoriedade e transicionalidade: pressupostos sobre o desenvolvimento na perspectiva psicanalítica, escrito por Hilda Rosa Capelão Avoglia e Gustavo Soares Domingues.
O capítulo analisa esse período por meio do cruzamento do conceito de “transitoriedade”, abordada pelo psicanalista Sigmund Freud (1856-1939), com o de “transicionalidade”, definido pelo psicanalista Donald Woods Winnicott (1896-1971). Dessa forma, os autores dialogam com o desenvolvimento da fase adolescente e a cotidianidade desse período.
De acordo com Domingues, o objetivo do capítulo é abordar o desenvolvimento da adolescência como uma fase singular, o que pode ajudar a evitar generalizações que reprimem o psicodinamismo do indivíduo nessa faixa. “Não há o objetivo de excluir o olhar cronológico e biomédico do desenvolvimento, mas compreendê-lo enquanto fatores norteadores e genéricos”, comenta o coautor. Neste caso, explica Gustavo, o artigo foca nas singularidades do desenvolvimento, de forma que seja possível promover um ambiente suficientemente bom para os indivíduos.
Hilda Avoglia e Gustavo Domingues tratam sobre a adolescência na perspectiva da Psicanálise
Um dos desafios na produção do capítulo enfrentada pelos autores foi o aprofundamento nas dimensões teóricas variadas, caso da temática da psicanálise, que tem Freud como o seu maior expoente. “Penso que o maior desafio consiste na capacidade de transitar entre os autores, e dialogar com os conceitos que, apesar de suas singularidades, sempre se relacionam com uma teoria maior”, explica o coautor.
Ainda sim, o pesquisador observa confluências curiosas nessas intensas análises. “Gera grande interesse o fato de as teorias clássicas psicanalíticas, ainda que elaboradas anos atrás, continuarem a realizar uma leitura tão profunda sobre desenvolvimento na atualidade”, afirma.
Adolescentes levados a sério
Outro capítulo do livro Desenvolvimento psicológico também lança luz sobre a fase da adolescência. O questionamento das bases teóricas clássicas da Psicologia, que tratam da definição ou normalização sobre o desenvolvimento de adolescentes, é foco do artigo Do desenvolvimento ao envolvimento: leituras contracoloniais sobre as adolescências.
Escrito por Beatriz Borges Brambilla, Stefanie Thiene Carlos e Renan Vieira de Santana Rocha, o leitor é convidado a ter um olhar plural sobre as adolescências. O texto propõe uma leitura crítica sobre as desigualdades e as determinações sociais estabelecidas para a área da Saúde. De acordo com Brambilla, o objetivo é propor uma discussão sobre o desenvolvimento humano com foco nas adolescências e a partir de uma perspectiva antiadultocentrica. O adultocentrismo é proposto como uma profunda revisão das estruturas sociais, políticas e educacionais que, conforme apontam os autores, subestimam os conhecimentos e as capacidades dos mais jovens.
“As teorias mais clássicas sobre o desenvolvimento humano costumam partir de um olhar externo, e de uma visão de que a adolescência é um momento de crise, de transição, de forma muitas vezes depreciativa em relação às pessoas adolescentes, numa negatividade em relação a suas condições de direitos e de sujeito peculiar do desenvolvimento”, explica a coautora.
Beatriz Borges Brambilla (foto), Stefanie Thiene Carlos e Renan Vieira de Santana Rocha refletem sobre teorias clássicas da Psicologia acerca das adolescências
Beatriz afirma que a adolescência em si, enquanto fenômeno sócio-histórico e cultural produz uma experiência de muita pressão e tensão na vida das pessoas. “Acho que fazer um estudo como esse, que vai tensionando as classes teóricas, é fundamental para que a gente avance em políticas públicas principalmente para as adolescências, e que partam de um processo de protagonismo juvenil e de escuta dessas vozes”, comenta a especialista.
De acordo com a coautora, os principais desafios enfrentados durante a produção do capítulo envolveram a questão ética de fazer uma pesquisa com as adolescências, no qual falam sobre si, em um caráter bastante autobiográfico e principalmente pela perspectiva interdisciplinar em como sistematizar informações com fundamentação teórica e possibilidades práticas. “O mais interessante foi acessar publicações de adolescentes em relação às próprias adolescências”, comenta.
A autoimagem da mulher
O livro também aborda questões do desenvolvimento psicológico na fase adulta. É o caso do capítulo Mulheres jovens adultas: a influência do discurso social na construção da autoimagem, produzido por Maria Luiza Trombelli e Thalita Lacerda Nobre. “O artigo foi feito junto com a orientadora de mestrado e nele discutimos sobre o uso da tecnologia, das redes sociais, dos filtros, uma realidade distorcida na condução da autoimagem de mulheres na adultez emergente”, comenta Nobre.
A partir do momento que a mulher questiona o lugar que costuma lhe ser destinado no mundo, abre possibilidades para novos espaços sociais e necessidades de adaptações, o que implica, inclusive, na forma como se enxerga. Nesse contexto, a psicanálise, em especial a obra freudiana, oferece os caminhos para essa análise, considerando a história pulsional e identificatória dessas mulheres.
Maria Luiza Trombelli e Thalita Lacerda Nobre (foto) refletem sobre a autoimagem da mulher, baseadas em conceitos da Psicanálise
De acordo com a coautora, o capítulo contribui para um momento no qual estudos têm apontado aumento na busca de clínicas especializadas em procedimentos estéticos, sobretudo no Brasil, nos últimos anos. “Também temos visto dentro dos atendimentos nas clinicas de Psicologia uma demanda das pessoas cada vez mais jovens — principalmente mulheres — em relação à própria aparência”, conta.
Segundo Thalita, o levantamento da parte teórica, a contextualização do tema e a seleção do material foram os principais desafios enfrentados na produção do capítulo.
“Agradecemos pela oportunidade de divulgar um trabalho tão útil. O formato livro é interessante por permitir que a especialista possa socializar e transmitir a sua pesquisa, e pode agregar para a população que está buscando informações sobre o tema”, destaca a coautora.
Envelhecimento com criatividade
A etapa final do ciclo do desenvolvimento humano é representada pelo capítulo intitulado Envelhecimento ativo no ciclo vital e a criatividade revisitada, escrito por Cleusa Kazue Sakamoto e Maria Stella Contreiras, lança luz sobre o tema do aumento da proporção de idosos na população e, consequentemente, sobre a necessidade de preparação, tanto individualmente quanto coletivamente, para o enfrentamento dessa nova realidade.
“As pessoas precisam encarar o fato de que o envelhecimento é uma fase da vida que chegará inevitavelmente. É necessário, e possível, se planejar consciente e responsavelmente para que esse período possa ser usufruído com saúde e alegria”, explica Maria Stella.
Maria Stella Contreiras e Cleusa Kazue Sakamoto tratam sobre o envelhecimento ativo no ciclo vital humano
De acordo com a pesquisadora Cleusa Sakamoto, o tema é relevante visto o eminente fato do envelhecimento populacional, o que demandará recursos e planejamento em diversas áreas. Além disso, em termos acadêmicos, o capítulo pode contribuir para a construção de referenciais teóricos que ajudam na orientação de políticas públicas e a preparar a sociedade como um todo, frente a revolução da longevidade e o período prolongado do envelhecer.
“Acreditamos que a maior dificuldade em escrever sobre o tema reside no fato de este ser um assunto intrinsecamente sensível, porque coloca em perspectiva a finitude; tratar o tema com objetividade, mas sem ser frio e, ser realista, mas não pessimista”, afirma Contreiras.
Sakamoto também destaca outro ponto que lhes chamou a atenção durante a pesquisa. “Existem muitas publicações voltadas à infância e adolescência, mas pouco material sobre a vida adulta e envelhecimento. Desse momento em diante, temos que compreender cada vez mais e melhor a etapa adulta, que tem se transformado com o envelhecer que se estendeu”, complementa a coautora.
Outras abordagens especiais
A obra também conta com mais capítulos:
No capítulo Gestação e pós-parto: desenvolvimento e proposta de intervenção, as autoras Ligia Momesso, Andreia da Silva Preto, Cristiano de Jesus Andrade e Miria Benincasa tratam sobre como a Psicologia pode apoiar nas demandas afetivas e emocionais durante o período gestacional, do pós-parto e puerpério.
Além de abordar o conhecimento sobre como a maternidade é visto e discutido ao longo do tempo, os especialistas defendem uma Psicologia mais especializada nessa fase, que adapte seu repertório teórico e técnico ao estudar a parentalidade e a perinatalidade, dada a grande preocupação no cenário do desenvolvimento da família e das políticas públicas.
No capítulo Da criança ingênua à criança dos desejos: a sexualidade e o percurso do desenvolvimento no olhar freudiano, as pesquisadoras Carolina de Fátima Tse e Hilda Rosa Capelão Avoglia utilizam o entendimento de Freud sobre a psique humana, e tratam sobre o fluxo pulsional infantil desde os três ou quatro anos de idade. Dessa forma, adentram nas teorias da sexualidade infantil e suas repercussões no processo formativo e educativo, bem como a pertinência dessas considerações na atualidade.
O livro tem lançamento previsto para o início de 2025, mas pode ser adquirido em seu pré-lançamento mediante solicitação por e-mail para: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. Fica o nosso convite para conhecê-lo!
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