Obras refletem sobre os bons e maus caminhos da urbanização, as boas práticas e a responsabilidade socioambiental dos agentes transformadores
Por Danilo Moreira
Quais desafios a sua cidade enfrenta atualmente? E quais ela já superou?
Muito se tem a discutir sobre os rumos das cidades e a eficiência de modelos de urbanização – bem como a busca de novos paradigmas para atender às demandas atuais (como as mudanças climáticas mais aceleradas) ou tentar resolver mazelas às vezes seculares, como a desigualdade social.
Ciente da importância sobre o tema, em 2013, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o dia 31 de outubro como o Dia Mundial das Cidades. O objetivo é chamar a atenção para a importância do fomento ao desenvolvimento urbano sustentável e a cooperação internacional.
Como o conhecimento é uma ferramenta poderosa de transformação, a Gênio Criador Editora selecionou alguns livros sobre cidades, que ajudam a despertar essa responsabilidade que é de todos.
Escritas por pesquisadores especialmente das áreas de Arquitetura e Urbanismo, as obras abordam sobre os desafios de cidades pelo mundo e também no Brasil, bem como aponta possíveis caminhos para modelos mais sustentáveis, humanizados e igualitários.
Confira a seguir:
1. Cidades do amanhã: uma história do planejamento e projetos urbanos no século XX, de Peter Hall
Lançado originalmente em 1988 pelo consagrado urbanista inglês Peter Hall (1932-2014), a obra reúne um extenso estudo sobre a formação e evolução das cidades e metrópoles do século XX e início do XXI.
O especializa traz, com bom humor britânico, um panorama abrangente e detalhado de casos de urbanização, passando pelos cortiços londrinos do século XIX à Brasília no século XIX, construída numa região mais isolada.
Dessa forma, nos oferece uma história global, crítica e sensível do planejamento urbano. Também traz profundas reflexões críticas sobre os modos de pensar e fazer projetos de urbanização e edificação, além de suas influências para os cidadãos.
No Brasil, a edição mais recente que costuma estar disponível à venda é a lançada em 2016 pela Editora Perspectiva.
2. Cidades para pessoas, de Jan Gehl
A obra foca no planejamento das cidades com ênfase na promoção da qualidade de vida e a interação social. Baseado em bons exemplos feitos em cidades na Europa, Austrália e América, o livro orienta a transformação de algumas cidades de forma a melhorar a mobilidade, inclusive para pedestres.
Gehl, que é um renomado arquiteto e urbanista dinamarquês, explora a importância de ambientes urbanos que priorizam as necessidades dos pedestres, e incentivam a convivência, a acessibilidade e as caminhadas.
Ele também traz dados e reflexões sobre a escala dos espaços, as possíveis soluções de mobilidade, as dinâmicas que favorecem a sustentabilidade e segurança das áreas urbanas, as possibilidades de expressão individual e coletiva, bem como a beleza do pode ser apreendido ao nível do observador.
No Brasil, a obra foi lançada pela Perspectiva em 2013, com tradução de Simone Reisner.
3. Morte e vida das grandes cidades, de Jane Jacobs
Nessa clássica obra da literatura de Urbanismo, a jornalista e ativista canadense Jane Jacobs (1916-2006) questiona as abordagens tradicionais de planejamento urbano dominante no século XX, que segundo ela, enfraquecem as cidades e as comunidades.
Jacobs denuncia como as grandes interferências nas cidades, como a construção de viadutos, destruição de patrimônios históricos e de bairros inteiros para construir guetos de habitação pública e a separação rígida de funções (residencial, comercial e industrial), eram as principais causas dos problemas que os locais enfrentavam.
Por meio do livro, a especialista mostra seu entendimento sobre grandes cidades através das suas próprias observações e vivências urbanas, o que fez a obra se tornar um dos livros mais influentes da história do urbanismo e o mais influente no pensamento contemporâneo sobre cidades.
Publicada pela primeira vez em 1961, a edição brasileira que costuma ser mais encontrada é a terceira lançada pela Editora WMF Martins Fontes, em 2011, com tradução de Carlos S. Mendes Rosa.
4. A cidade em harmonia: o que a ciência moderna, civilizações antigas e a natureza humana nos ensinam sobre o futuro da vida urbana, de Jonathan F. P. Rose
O livro explora uma visão integrada sobre o desenvolvimento das cidades, além de defender como os princípios da natureza, da Cultura e da Ciência podem inspirar um urbanismo mais sustentável e equilibrado.
Rose, urbanista norte-americano dedicado ao planejamento sustentável, examina o que torna as cidades prósperas e resilientes ao longo da história. Ele se embasa nos conhecimentos oriundos de diversos campos — incluindo Ecologia, Antropologia e estudos sobre civilizações antigas.
O autor sugere que, ao aprender com a natureza e incorporar esses conhecimentos às cidades, é possível criar ambientes urbanos que favoreçam a saúde, a harmonia e o bem-estar coletivo, essenciais para enfrentar os desafios ambientais e sociais da atualidade.
Lançado em 2018, no Brasil, foi publicado no mesmo ano pela Editora Bookman, e conta com a tradução de Alexandre Salvaterra.
5. Cidades para todos: (re)aprendendo a conviver com a natureza, de Cecilia Polacow Herzog
No livro, Herzog, que é especialista em infraestrutura verde e ecologia urbana, explora como a reconexão com a natureza pode transformar o ambiente urbano, além de promover qualidade de vida e sustentabilidade.
A especialista discorre sobre a urgência de incorporar soluções ecológicas no planejamento urbano para criar cidades mais resilientes e inclusivas, visto que são fontes de muitos dos impactos causados ao meio ambiente. Mas, ao mesmo tempo, podem se tornar enorme potencial para amenizar as consequências de nossas ações.
Além de pontuar os problemas e apontar soluções, a autora relaciona exemplos de várias cidades do mundo e explica o quanto precisamos de natureza fazendo parte de nossas vidas todos os dias.
A obra foi lançada pela Editora Mauad X, em 2013.
Com 37 milhões de habitantes, Tóquio é a cidade mais populosa do mundo
6. Arquitetura e política: ensaios para mundos alternativos, de Josep Maria Montaner e Zaida Muxí
O livro explora as conexões entre a Arquitetura, o Urbanismo e as dinâmicas políticas que moldam o espaço urbano. De modo geral, a obra aborda a responsabilidade social dos arquitetos e urbanistas e o impacto político de seus trabalhos no cotidiano das cidades.
Para a discussão, Montaner e Muxí trazem informações desde o desenvolvimento das cidades no contexto capitalista, até o papel da Arquitetura no enfrentamento de questões sociais, como a desigualdade e a segregação.
Eles também analisam como a arquitetura pode atuar tanto como ferramenta de dominação quanto como meio de inclusão social, sendo um reflexo das forças políticas e econômicas de cada época.
No Brasil, a obra foi publicada em 2014 pela Editora Gustavo Gili, com tradução de Frederico Bonaldo.
7. A imagem da cidade, de Kevin Lynch
Nesse clássico do Urbanismo, o autor trata sobre a forma física das cidades que influencia em como os moradores a percebem e se orientam nela. A obra é fruto de pesquisas em cidades norte-americanas como Boston, Jersey City e Los Angeles.
Lynch propõe e reflete sobre as relações entre cinco elementos-chave da "imagem" urbana: as vias (caminhos de circulação), limites (que separam áreas distintas), bairros (áreas com características únicas), pontos nodais (locais de referência, como praças e cruzamentos) e marcos (elementos visuais importantes, como torres e edifícios notáveis).
O livro é reconhecido por seu impacto na área de Arquitetura e no Urbanismo, oferecendo uma estrutura para projetar espaços urbanos que promovam uma experiência mais clara e agradável para os habitantes e visitantes.
Publicado pela primeira vez em 1960, no Brasil a versão mais encontrada à venda é a terceira, lançada pela Editora WMF Martins Fontes em 2011, com tradução de Jefferson Luiz Camargo.
8. A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas, de Henri Acselrad
O livro reúne estudos de especialistas como Bárbara Deutsch Lynch, Erik Swyngedouw, Rosa Moura, e discorre sobre como construir um espaço mais democrático e justo nas cidades, visto que o fenômeno metropolitano convencional já se mostra esgotado.
A obra se aprofunda nos desafios da nossa civilização pela dinâmica e pela complexidade do crescimento e da expansão das cidades, além de trazer análises sobre relação entre sustentabilidade, desenvolvimento urbano e justiça ambiental.
O trabalho também critica as abordagens superficiais de sustentabilidade urbana e questiona a "durabilidade" das cidades diante dos desafios socioambientais.
Lançado pela primeira vez em 2001, no Brasil, você encontra à venda especialmente a segunda edição publicada pela Editora Lamparina, em 2009.
9. Para entender a crise urbana, de Ermínia Maricato
Composto por três artigos e uma entrevista, a obra traz reflexões teóricas e políticas que, a partir da perspectiva da luta de classes, auxiliam na compreensão da lógica de funcionamento e da organização do espaço urbano.
A autora aponta que o desenvolvimento do capitalismo estimulou uma crise urbana. As características históricas brasileiras um país da periferia do capitalismo com ampla tradição escravocrata são consideradas como fundamentais para a compreensão dessa crise tal como ela se apresenta.
Falando explicitamente sobre “analfabetismo urbanístico”, a autora busca contribuir na erradicação para esse fato que ainda trava o crescimento e desenvolvimento dos espaços urbanos, e como é necessário organizar esse ambiente dentro do contexto da luta de classes.
A obra foi lançada em 2024 pela Editora Expressão Popular.
10. Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças, de Raquel Rolnik
Após terminar seu mandato como relatoria para o Direito à Moradia Adequada à ONU, a urbanista Raquel Rolnik escreveu algumas reflexões, que resultaram no livro.
Na obra, ela aborda sobre as transformações nas políticas habitacionais e fundiárias em vários países do mundo, com foco na expansão de uma economia neoliberal globalizada, e como impactaram nos direitos à terra e a moradia dos mais vulneráveis.
A autora também reflete sobre a situação brasileira, as especificidades e diferenças da crise urbana no país, em comparação com outros exemplos que ela viu pelo mundo.
O livro foi lançado em 2017 pela Boitempo Editorial.
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Com informações de: Nexo, Aventuras na História, Casa Vogue, ArchDaily, Caos Planejado
Fotos: Pixabay