Lançamento da Gênio Criador Editora, obra mostra curiosidades da Catedral e conta com depoimento de Sonia, peregrina do Caminho de Santiago, uma das maiores rotas católicas do mundo
Por Danilo Moreira
Situada na cidade que leva o seu nome, na Espanha, a Catedral de Santiago de Compostela começou a ser construída no ano de 1.075. Ao longo dos séculos, ganhou novas características e tornou-se um imponente templo católico, um dos mais belos e conhecidos do mundo.
O local, onde estão enterrados os restos mortais do apóstolo Tiago, um dos discípulos de Jesus, segundo a tradição cristã, é o destino final dos Caminhos de Santiago, um conjunto de rotas de peregrinação cristã. São cerca de sete rotas históricas: o Caminho Francês, o Caminho do Norte, a Vía de la Plata, a Rota Marítimo fluvial, o Caminho Inglês, o Caminho Primitivo e o Caminho Português.
É claro que uma catedral imponente e uma série de rotas de peregrinações milenares são carregadas de histórias interessantes e, certamente, devem marcar para sempre quem viveu essas experiências. É o caso da escritora e educadora baiana Conceição Barros que, fascinada com a história do local, reuniu sua vivência e pesquisa no livro Campo das Estrelas — história, arte e fé, lançamento pela Gênio Criador Editora. A obra, a autora revela curiosidades culturais, religiosas e arquitetônicas sobre o local, além de trazer suas impressões como visitante.
Além do seu relato, Conceição traz a contribuição da jornalista e coautora Sonia Di Rebouças, que fez os trajetos dos caminhos francês (cerca de 800 km) e português (270 km) até a Catedral e, em uma carta, dedicada à amiga, compartilha com os leitores do livro a sua valiosa experiência como peregrina até o local.
A obra também conta com prefácio do Arcebispo Metropolitano de Vitória da Conquista, Dom Josafá Menezes da Silva.
Para falar de um tema tão especial, o blog da Gênio Criador Editora convidou a autora Conceição Barros e a coautora Sonia Di Rebouças para falarem sobre o livro e a vivência que tiveram com o local.
Primeiramente, você irá conhecer com a autora mais detalhes sobre a composição da obra. Na sequência, irá saber com Sonia mais curiosidades sobre a experiência da peregrinação no Caminho de Santiago e sua contribuição para o livro.
Conceição nasceu em Ituaçu, na Bahia, e ainda criança, foi para Vitória da Conquista. Formou-se em Pedagogia e fez Pós-Graduação em Programação de Ensino pela Faculdade de Educação da Bahia, em Salvador. Além de construir uma carreira como educadora, também atuou em outras esferas da área, como a secretária municipal de Educação de Vitória da Conquista, diretora do Instituto de Educação Euclides Dantas, além de criar a Escola de Aplicação Maria do Carmo Veira de Melo. Como escritora, publicou os livros “Vouando” (2000), “Essência” (2007), e “O Fascínio das Catedrais” (2013), tendo participado com ele do Salão Internacional do Livro 2015, em Genebra, Suíça.
Conceição Bastos, autora de “Campo das Estrelas” (Créditos: acervo pessoal)
Já Sonia nasceu em Leopoldina (MG), e se mudou para Salvador para cursar Jornalismo na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Funcionária pública estadual, foi morar em Vitória da Conquista, passando a trabalhar na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, onde conheceu Conceição, então pró-reitora de Planejamento da instituição. Desde então, além da amizade, as duas realizaram diversos trabalhos juntas.
Sonia Di Rebouças autora de “Campo das Estrelas” (Créditos: acervo pessoal)
Confira as entrevistas a seguir:
GENIO CRIADOR EDITORA: Conceição, por favor, conte para nós as suas principais motivações para escrever o livro.
Conceição — Sempre alimentei o desejo de conhecer Santiago de Compostela por ser um dos lugares santos da cristandade mais visitados no mundo, comparado só a Roma e Jerusalém. Lá chegando, encantei-me com aquela catedral românica, silenciosa e bela. Daí, conhecendo mais profundamente a vida do Apóstolo São Tiago, que era um dos prediletos de Cristo, surgiu, no mais profundo do meu coração, o desejo de escrever um livro sobre o assunto.
Com a vivência de já ter escrito “O Fascínio das Catedrais”, como foi a experiência de escrever o novo livro?
Conceição — Embora realmente já tenha visitado e escrito sobre várias catedrais, escrever sobre a de Santiago foi uma experiência bastante particular, pela sua própria natureza, ou seja, o real motivo da sua construção. Na verdade, o Apóstolo foi o grande motivador. Sua vida, sua luta e pregação do cristianismo junto ao povo judeu e na Península Ibérica tornou-se também um grande motivador.
Quais mensagens você gostaria de transmitir ao leitor por meio da obra?
Conceição — Antes de escrever o livro, fui a cada dia tentando conhecer mais e mais a vida do Apóstolo São Tiago. A predileção de Jesus por ele e seu irmão, João Evangelista, era tão forte que, nos momentos de muito sofrimento e também de muita aproximação de Jesus com o Pai como na transfiguração, Tiago estava próximo.
Portanto, gostaria de transmitir às pessoas o desejo de conhecerem mais sobre a vida de São Tiago Maior. Ele amou tanto Jesus que dos doze, foi o primeiro a derramar o seu sangue pelo Mestre (foi decapitado).
Para quem de um modo geral a obra é indicada?
Conceição — Para todas as pessoas que gostam de ler sobre a beleza das catedrais e para aquelas desejosas de conhecerem algo sobre o tão falado Caminho de Santiago. Neste livro, a minha particular amiga e coautora Sonia, descreve de forma agradável e detalhada sobre ele, expondo mapa, roteiro, distância, quilometragem e ponto de apoio dos 800 km do “caminho francês” (portanto boas dicas).
Quais foram os maiores desafios com os quais você lidou durante a escrita da obra?
Conceição — O maior de todos os obstáculos que me deparei, sem sombra de dúvidas, foi a pandemia. Se por um lado sobrava tempo pelo afastamento do trabalho, por outro, o momento me tirou o ânimo, a energia e mesmo a satisfação de escrever em meio a tanta tristeza, dor e até desaparecimento de pessoas queridas.
Percebe-se o quanto a vivência das viagens para Santiago e as visitas à catedral foram bastante marcantes para você. De que formas elas impactam na construção do livro?
Conceição — A construção desta obra guarda características completamente distintas das anteriores que eu escrevi, seja pelo exclusivo e particular interesse que comecei a ter pela vida do Apóstolo estudando mais e mais sobre ele, seja pelas grandes e até inacreditáveis coincidências detectadas ao longo de sua feitura. Tanto é assim que as chamo de “deuscidências”, ou seja, coincidência de Deus. Eu diria, mesmo, que foram maravilhosas coincidências.
Catedral de Santiago de Compostela (Créditos: Joka Assis/Pexels)
Em relação à parte bibliográfica da obra, como foi o processo de pesquisa e as maiores dificuldades que você sentiu?
Conceição — A parte da bibliografia não apresentou dificuldade alguma. Há vasta fonte de pesquisa, a começar pelo próprio Livro Sagrado em que o Apóstolo São Tiago é mencionado 12 vezes. Foram tantos os autores pesquisados que, como cito no livro, alguns momentos necessitaram até de compilação. Na verdade, a exposição da pesquisa, confrontada com a realidade visitada, ajudaram-me a traçar um caminho próprio e particular para o Campo das Estrelas.
A obra conta com a participação da sua amiga, a peregrina Sonia Di Rebouças. Como surgiu a ideia de incluí-la no livro e qual é a importância do relato dela para o contexto da obra?
Conceição — Pensei que, por mais completa que fosse a obra sobre o Apóstolo e sua belíssima catedral, deixaria a desejar se não contasse com o depoimento de alguém que tivesse peregrinado sobre o tão falado “Caminho de Santiago”. Ficaria mesmo uma enorme lacuna.
Sonia é uma pessoa que tem “chão de fé” para pisar, é sensível, jornalista de categoria, e fez o Caminho Francês e o Caminho Português. A convidei para participar do livro, primeiro, pela relação de amizade que temos, depois por considerar a maneira leve, gostosa e emocionante que ela vivenciou os 37 dias de percurso, o que certamente servirá de inspiração para aquelas pessoas que pensam também em por lá peregrinar.
Como foi a experiência de publicar pela Gênio Criador Editora?
Conceição — Gostamos muito. Sempre deixei a parte da edição mais por conta de Sonia, que por ser jornalista, conhece mais de perto os meandros de uma publicação. A grande vantagem da Gênio Criador Editora é contarmos com a presença bem de perto da responsável pela Direção Editorial, o que de certa forma humaniza, muito o trabalho.
Deixe um convite para os leitores conhecerem o livro.
Conceição — Penso que o livro se mostra dentro exatamente do que propomos: história, arte e fé. A Catedral de Santiago é belíssima. Pela sua grandiosidade, mistério e beleza, há quem a defina como um “poema de arte”. Depois, está nele o relato maravilhoso do caminho percorrido inclusive por São Francisco de Assis. São estes os momentos fortes do livro.
Finalmente, tomo como minhas as palavras do grande Monteiro Lobato para afirmar: “quem escreve um livro constrói um castelo. E quem o lê mora nele”. Dessa forma, deixo o convite.
Sonia, um dos detalhes que chama a atenção é que o seu relato sobre a peregrinação, no livro, é feita em formato de carta. Qual foi o motivo da escolha desse formato? Teve algum significado especial?
Sonia — Fiz a carta inicialmente para a Conceição. Ela foi uma das principais acompanhantes da minha peregrinação, acompanhou a minha jornada por meio da internet e, ansiosa, esperava pela minha chegada a Santiago. Chegou a me pedir que tão logo avistasse a belíssima catedral, que ela fosse a primeira a saber.
Quando cheguei, instantaneamente contei a ela, via mensagem. Mas não me contentei. Resolvi escrever-lhe uma carta para expressar as minhas emoções e como me sentia depois de conquistar o meu grande feito. Não a postei, mas ela a recebeu eletronicamente. A carta acabou indo para o livro e posso dizer que deixou de tê-la como única destinatária, passou a ser para cada leitor.
Monte do Gozo, a 5 Km de Santiago de Compostela, de onde é possível avistar as torres da Catedral (Créditos: Sonia Di Rebouças/acervo pessoal)
O que representa para você poder levar o relato da peregrinação para o livro?
Sonia — Peregrinar 800 quilômetros desde o sul da França, atravessar a fronteira pelos montes Pirineus, até a catedral de Santiago de Compostela, onde estão os restos mortais do Apóstolo Tiago, foi uma experiência única e inesquecível.
Cada etapa dessa trajetória está vivamente gravada nas minhas mais preciosas memórias. Poder compartilhar um pouco das minhas emoções com o leitor, o mais diverso e desconhecido, é muito agradável. É como se eu estivesse andando e encontrando cada um destes leitores no caminho.
Por meio da sua experiência relatada na carta, qual mensagem você deseja transmitir aos leitores do livro?
Sonia — O Caminho de Santiago está a nossa frente o tempo todo. Dia a dia, aprendemos que cada um faz o seu próprio caminho. Como na vida, enfrentamos dificuldades e como lidar com elas. Assim como no trajeto, também vivemos toda a beleza a nossa volta e treinamos nosso olhar para não deixar que nada passe despercebido, nada nos distraia.
E qual é a importância dessa peregrinação para a sua vida?
Sonia — Tenho vivido muitas coisas importantes, mas o Caminho de Santiago está entre as minhas experiências mais fortes, belas e ricas. É história que vou contar para os meus netos.
Você já tinha estima por São Tiago e sua história? Como iniciou essa relação?
Sonia — Sou muito religiosa e tenho muito apreço e devoção pelos Santos da nossa igreja. São Tiago foi muito amigo e próximo de Jesus. A peregrinação não resultou da minha devoção a Santiago, mas ela se intensificou. Hoje tenho São Tiago como um grande intercessor, alguém que está lá no céu e pode me ajudar. A ele confio muitas das minhas graças a serem alcançadas.
Santiago peregrino, pintura de Juan de Juanes (1560-1570 – Créditos: portal Caminho de Santiago de Compostela)
Você tem planos de fazer novamente essa caminhada ou viver uma experiência similar?
Sonia — Quando terminei o Caminho Francês, acreditava que não faria de novo. Mas estava enganada. Em 2022, estava novamente a caminhar rumo a Santiago. Fiz o Caminho Português Central. Saindo de Porto, em Portugal, percorri 270 quilômetros. Foram 12 dias de caminhada e uma experiência diferente, mais curta, mas igualmente emocionante e desafiadora.
Quais fatos mais lhe marcaram nessa experiência?
Sonia — Foram vários: as celebrações da santa missa com bênção aos peregrinos; as valiosíssimas obras de arte sacra, que são impressionantemente belas; o acolhimento de voluntários nos albergues de peregrinos. Também me marcaram os encontros que tive no decorrer da caminhada. Foram pessoas das mais diversas partes do mundo, com variadas condições físicas, materiais e culturais, que se engajaram com o objetivo comum de chegar a Santiago de Compostela.
Mesmo com as dificuldades ocasionadas pela diferença de idioma, as atitudes diziam muito de cada peregrino. A alegria, a tristeza, a solidariedade, a expectativa eram sentimentos universais e transmitidos independentemente das palavras trocadas.
Como foi o trabalho da seleção do material a compor o seu relato no livro? Tem alguma foto com algum simbolismo maior?
Sonia — Quando estava fazendo o caminho, não quis me prender a nenhum compromisso. Não fiz nenhum registro por escrito. Guardei minha credencial, uma espécie de passaporte, onde eram carimbados os selos de albergues, cafés, restaurantes, igrejas, museus por onde passava. Esses foram os meus registros e, a partir deles, fui resgatando da minha memória fatos que não passaram despercebidos e que marcaram os meus dias de peregrinação. Para outras informações, precisei recorrer a livros que já li, blogs e outros.
Se pudesse dar um conselho principal para quem deseja fazer o Caminho de Santiago, qual seria?
Sonia — Dizem que o caminho chama o peregrino. Passei a acreditar que isto é verdade. Então, para quem está sendo chamado, eu digo que vá. Cuide do mínimo necessário e se desprenda do que não for necessário. Uma mochila e nada mais. Fisicamente, claro, procure conhecer seu limite. No mais, o caminho vai preparando o peregrino, dia a dia.
Lançamento:
Campo das Estrelas — história, arte e fé
Lançamento: 25 de julho de 2024
Horário: 18 horas
Local: Limão Doce — espaço de eventos
Endereço: Avenida Brasil, 1266 - Candeias - Vitória da Conquista (BA)
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Com informações de: Turismo Galícia, Nacionalidade Portuguesa, Spain