Obras abordam a ascensão e os impactos de um dos regimes mais cruéis da História
Por Danilo Moreira
Em janeiro deste ano, enquanto falava para apoiadores do presidente norte-americano Donald Trump, o bilionário Elon Musk fez duas saudações que foram atribuídas ao estilo nazista. Intencionais ou não, os gestos viralizaram mundialmente e suscitaram discussões sobre o quanto as sombras do nazismo ainda estão presentes nos dias atuais.
O regime nazista foi um dos mais cruéis da história da humanidade. A ideologia extremista, sob a liderança de Adolf Hitler (1889-1945), pregava a crença falsa da raça superior e lançou o país na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Também promoveu genocídios, como os praticados no campo de concentração de Auschwitz (foto), na Polônia, e deixou cicatrizes profundas no mundo.
Compreender esse período é essencial não apenas para manter viva a memória das vítimas, mas também para evitar que erros semelhantes se repitam. Para ajudar nesse objetivo, a Gênio Criador Editora selecionou algumas das obras mais importantes para quem deseja se aprofundar no estudo do nazismo e suas consequências.
São obras que trazem relatos históricos, dados, curiosidades, desdobramentos e testemunhos de sobreviventes, que ajudam a lançar luz sobre esse tema complexo e perturbador.
Confira a seguir:
1. Origens do totalitarismo, de Hannah Arendt
Nesse clássico, a autora, de origem judaico-alemã, analisa as raízes históricas, sociais e políticas e os meios de operação que permitiram a ascensão de regimes totalitários na Europa na primeira metade do século XX, com foco no nazismo e o stalinismo.
Arendt examina como o antissemitismo europeu, surgido no século XIX, contribuiu para a criação da imagem de um inimigo interno, sendo um fator fundamental para a ideologia nazista, bem como as práticas do imperialismo colonial naquele século serviram de laboratório para práticas autoritárias.
A pesquisadora também discorre sobre as características centrais dos regimes totalitários, como a distorção da realidade, o uso do terror e da propaganda e a transformação de classes em massas manipuláveis.
Lançado originalmente em 1951, a edição brasileira que costuma ser mais encontrada à venda é a publicada pela Companhia de Bolso, selo da Companhia das Letras, em 2013, com tradução de Roberto Raposo.
2. Hitler, de Ian Kershaw
Considerada uma das obras mais completas sobre o ditador nazista, o livro traça sua trajetória desde a infância até seu suicídio em 1945, explorando o impacto da Primeira Guerra Mundial, a ascensão do nazismo e os horrores do Holocausto.
A biografia não se limita aos eventos mais conhecidos da sua vida, como o início de sua carreira política, o regime de terror e o Holocausto, mas também investiga a sua personalidade, bem como as complexas relações pessoais e ideológicas que moldaram suas decisões e influência na Alemanha.
Kershaw analisa Hitler não apenas como uma figura histórica, mas também como um símbolo de uma era marcada pela violência, autoritarismo e destruição.
O livro foi lançado em dois volumes, o primeiro em 1998 e o segundo em 2000, tendo sido unificado anos depois. No Brasil, é comum encontrar a edição lançada em 2010 pela Companhia das Letras, com tradução de Pedro Maia Soares.
3. Holocausto e memória, de Marcos Guterman
Na obra, o historiador e jornalista brasileiro aborda o Holocausto não apenas como um dos eventos mais trágicos da História, mas como um fenômeno de memória coletiva. O pesquisador analisa como o genocídio nazista foi narrado, lembrado e instrumentalizado ao longo do tempo.
Guterman avalia a confiabilidade da memória das vítimas sobreviventes do genocídio nazista por meio das obras escritas, audiovisuais, artísticas e outras representações pelo mundo.
O livro também explora temas como o uso político da memória judaica, bem como os desafios de manter viva a lembrança desse horror em um mundo cada vez mais distante dos acontecimentos.
A obra foi lançada pela Editora Contexto, em 2020.
4. A chegada do Terceiro Reich, de Richard Evans
O livro é o primeiro volume da trilogia sobre o nazismo publicada pelo historiador britânico. A obra examina como a Alemanha, em poucas décadas, passou de uma democracia fragilizada ao regime totalitário de Hitler.
Também são analisadas as raízes políticas, sociais e econômicas que permitiram a ascensão do nazismo, desde o fim do Império Alemão na Primeira Guerra Mundial até a tomada do poder pelos nazistas, em 1933.
Evans detalha o colapso da República de Weimar, o crescimento da ideologia extremista e o papel da violência política e da propaganda na construção do Terceiro Reich.
No Brasil, é comum encontrar a terceira edição publicada pelo selo Crítica, da Editora Planeta, em 2017.
5. Terceiro Reich no Poder, de Richard Evans
No segundo volume da trilogia, Evans explora o período em que Hitler consolidou seu domínio na Alemanha, entre 1933 e 1939, e os mecanismos que sustentaram um dos regimes mais brutais da história.
O pesquisador examina como o regime nazista transformou a sociedade alemã em um estado totalitário, usando propaganda, repressão e controle ideológico para eliminar opositores e moldar a vida cotidiana.
Evans também analisa a perseguição a minorias, a militarização do país e a preparação para a guerra, mostrando como o nazismo conseguiu mobilizar a população para seus objetivos expansionistas e genocidas.
No Brasil, é comum encontrar a primeira edição, de 2011 e a terceira, de 2017, publicadas pela Editora Planeta.
Hitler diante de sua tropa
6. Terceiro Reich em guerra, de Richard Evans
No terceiro e último volume da trilogia, Evans analisa a trajetória da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), desde a invasão da Polônia até a derrota final do Terceiro Reich.
O livro investiga a dinâmica da guerra, as atrocidades cometidas pelo regime e o impacto desse conflito na sociedade alemã.
Evans descreve a brutalidade do Holocausto, a resistência ao nazismo, a gestão militar e econômica do esforço de guerra e os erros estratégicos que levaram à derrubada do regime de Hitler e ao seu suicídio.
No Brasil, é comum encontrar à venda a primeira edição, de 2012 e a terceira, de 2017, publicadas pela Editora Planeta.
7. Nazistas entre nós: a trajetória dos oficiais de Hitler depois da guerra, de Marcos Guterman
Será que os nazistas foram exemplarmente punidos após a derrota alemã? O historiador e jornalista brasileiro Marcos Guterman investiga o destino dos oficiais nazistas após a Segunda Guerra Mundial.
Apesar da derrota da Alemanha e dos julgamentos de Nuremberg, muitos criminosos de guerra conseguiram escapar da justiça, reconstruindo suas vidas em diferentes partes do mundo.
A obra revela como vários nazistas encontraram refúgio em países como Argentina, Brasil e Estados Unidos, muitas vezes com a conivência de governos e instituições. Além disso, aborda as redes de fuga organizadas para ajudá-los e o impacto dessas migrações na política e na memória histórica do Holocausto.
O livro foi publicado pela Editora Contexto, em 2016.
8. A revolução cultural nazista, de Johann Chapoutot
Neste livro, o historiador francês investiga como o regime nazista não apenas impôs uma ditadura política, como também promoveu uma transformação profunda na Alemanha em termos culturais.
A “revolução cultural” promovida pelo Terceiro Reich não foi apenas uma estratégia de propaganda, mas um esforço sistemático para criar uma nova sociedade baseada na eugenia, no expansionismo e no culto ao líder (führer).
A obra explora como os nazistas reescreveram a História, a Ciência, o Direito e até a moralidade para doutrinar sua ideologia totalitária e racista. Além disso, mostra como intelectuais, acadêmicos e profissionais de diversas áreas ajudaram a moldar essa visão de mundo alinhada aos princípios do nazismo.
No Brasil, foi publicada em 2022 pela Editora DaVinci, com tradução de Cláudia Schilling.
9. As mulheres do nazismo, de Wendy Lower
Tomando como base as histórias de 13 mulheres, a historiadora norte-americana trata sobre o papel ativo das mulheres no regime nazista, desmontando o mito de que eram apenas espectadoras passivas dos crimes do Terceiro Reich.
Munida de dados e relatos, a obra investiga como professoras, enfermeiras, secretárias, esposas de oficiais e até jovens alemãs enviadas aos territórios ocupados contribuíram para o funcionamento do regime e participaram do Holocausto, e chegaram a se tornar assassinas frias.
Lower mostra como quase toda uma geração de alemãs foi levada a participar ativamente da engrenagem nazista, conquistadas pela propaganda e pelo forte sentimento nacionalista. Em outras palavras, o livro mostra como o fanatismo e a cumplicidade feminina ajudaram a sustentar o horror nazista
O livro ganhou edição brasileira em 2014 pela Rocco, com tradução de Angela Lobo de Andrade.
10. É isto um homem?, de Primo Levi
Fechamos a lista com um livro que traz o depoimento de um sobrevivente do Holocausto. No livro, o escritor e químico italiano Primo Levi (1919-1987) relembra seu sofrimento num campo de extermínio.
Levi relata suas dolorosas experiências em um campo de concentração, e mais do que dores físicas, trata de um tipo de morte que considerava muito mais cruel: a dos sonhos, lembranças e desejos das vítimas do regime cruel.
Levi foi deportado para o campo de concentração de Auschwitz em 1944, entre outros 650 judeus italianos. O autor foi um dos poucos que sobreviveram, retornando à Itália em 1945.
Levi publicou o livro pela primeira vez em 1947, pouco depois que foi libertado. No Brasil, a edição que costuma ser mais encontrada nas livrarias é lançada pela Rocco em 2013, com tradução de Luigi Del Re.
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Com informações de: Guia do Estudante, Veja, Terra, Estadão e Gazeta do Povo
Fotos: (1) Alexander Zvir/Pexels, (2) UFMG/Reprodução