Essencial para o desenvolvimento, o hábito de leitura pode ser estimulado com dicas e práticas simples
Por Danilo Moreira
Você tem o hábito de ler? Costuma ler vários livros ao ano? Segundo o estudo Retratos da Leitura, de 2016, realizado pelo Ibope por encomenda do Instituto Pró-Livro, leitores compõem 56% da população brasileira. O mesmo estudo aponta que a população lê, em média, 4,96 livros ao ano. A leitura é um processo essencial para o desenvolvimento cognitivo, para a aquisição do conhecimento ou mesmo um entretenimento que exercita o cérebro e previne doenças como o Alzheimer, mas nem sempre é possível ler um livro, seja por falta de tempo, ou estímulo.
Mas, como criar/aprimorar um hábito de ler livros? Confira algumas histórias e dicas para te inspirar a também reforçar essa importante prática.
Mais interatividade entre leitores
A Internet modificou ou influenciou diversos hábitos e isso não foi diferente em relação à leitura. Atualmente, existem plataformas como a Amazon, que comercializam livros digitais, ou mídias sociais como o Skoob, voltado para leitores ou o Wattpad, com foco em escritores. Diferente da época em que não era comum essa conectividade, hoje, leitores podem compartilhar seus gostos e recomendações, além de pesquisar sobre obras de interesse. Essa modificação no cenário tem sido objeto de estudo por diversos especialistas.
Em 2017, a Professora Mestra em Comunicação e Semiótica Alessandra Barros Marassi publicou, pela Gênio Criador Editora, o livro “Interações Digitais e o Consumo do Livro”. A obra aborda sobre as transformações importantes que o consumo de livros recebeu com o advento da Internet. A autora aborda sobre a interatividade dos leitores nesses novos ambientes, e como as empresas, a exemplo da Google e Amazon, estão se adaptando a essa nova realidade. “O livro fala do comportamento do leitor, como ele adquire novos títulos, busca indicações e interage com demais leitores nas mídias digitais”, afirma a professora. A publicação está disponível para compra na Amazon.
Alessandra é formada em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas na Universidade Metodista de São Paulo. Trabalhou com grandes marcas como Brahma, Nestlé, Ford e Nokia, exercendo principalmente atividades relacionadas à Publicidade. Atualmente, é docente e coordenadora da graduação técnica de Produção Multimídia da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (Fapcom), na capital paulista, além de gerenciar grupos de extensão e pesquisa na mesma instituição. Doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, Alessandra afirma que a rotina acadêmica tem segmentado a sua escolha de obras para ler. “Atualmente, com o doutorado, confesso que só posso ler os livros relacionados com a pesquisa. Quando terminar, certamente terei diversas opções para a leitura de lazer”, explica. Ao ser perguntada sobre o que mais gosta de consumir nesse sentido, a docente afirma: “Gosto muito de temas voltados para espiritualidade, meditação e autoconhecimento.”
Alessandra conta que o gosto por ler foi estimulado pela família. O incentivo dos familiares à prática da leitura também é um fator apontado na pesquisa do Instituto Pró-Livro, sendo a mãe ou outra representante do sexo feminino a principal responsável por esse estímulo, segundo 11% dos entrevistados. Mas, no caso da docente, o pai é apontado como outro modelo importante nesse sentido. "Meu pai sempre estudou muito e isso também foi um valioso exemplo”, afirma. A professora também aponta que a sólida formação escolar contribuiu com o seu gosto pelos livros. “Fiz Ensino Fundamental e Médio nos colégios São José e Metodista”, conta.
Jovens não têm o costume de ler?
O consumo de livros influenciado pelo cenário digital também foi foco de uma pesquisa de Iniciação científica da recém-formada em Produção Audiovisual da Fapcom, Dayane Guanabara. Além de Marketing, ela também estudou fotografia digital, na George Brown College, em Toronto, no Canadá. Por meio do Programa de Iniciação Científica na Fapcom, a carioca de 25 anos publicou o artigo Plataformas digitais e o hábito de leitura - um estudo sobre a rede Skoob, que aborda sobre a rede social para leitores com maior número de usuários do país, ultrapassando os 4 milhões. Assim como a obra de Alessandra, o estudo de Dayane, orientado pela Professora Doutora Cleusa Sakamoto, mostra o quanto a Internet tem influenciado os hábitos de leitores, sendo a interatividade como uma das principais características desse atual cenário.
“O que mais me motivou a fazer a pesquisa foi a minha própria experiência com essas redes sociais voltadas para leitores. Eu sou uma usuária ávida do Goodreads. É através dele que eu encontro diferentes títulos, fico por dentro dos lançamentos e compartilho minha leitura com outros usuários”, conta Dayane, que relata ter lido mais de 130 livros somente em 2017. “Eu nunca conseguiria ter chegado a esse número sem a ajuda da plataforma”, explica.
Dayane conta que sua rotina não permite ter contato pessoal com muitos leitores e que esses canais digitais criaram um espaço digital aberto para trocar experiências literárias. “Eu fiquei curiosa e quis saber se outros leitores brasileiros também utilizavam plataformas digitais para potencializar suas leituras,” conta.
Segundo a pesquisadora, o que mais a surpreendeu durante a pesquisa foi a presença de leitores jovens na plataforma. “É comum ouvir as pessoas falando que no Brasil os jovens não tem o costume de ler, mas os dados do Skoob mostram um cenário otimista para o jovem leitor brasileiro. A maioria dos usuários da plataforma é jovem (adolescentes e jovens adultos), que possuem o hábito de ler por prazer”, relata. Dayane conta que a pesquisa também apontou que a maior parte dos entrevistados acredita que o Skoob modificou o hábito de leitura positivamente. “É muito legal saber que por meio da rede os participantes se tornaram leitores mais consistentes, frequentes e abertos”, comenta.
Ainda que lesse por prazer desde a adolescência, Dayane conta que era uma atividade esporádica e que não era praticada com frequência pelas pessoas com quem convivia. Quem mais a estimulou na prática da ler livros, aponta, foi o marido, José Donizetti. “Ele sempre estava com um livro na mão e isso acabou me encorajando a dar uma chance mais séria para a leitura”, comenta. Ela conta que é apaixonada por livros de ficção, sendo a fantasia um dos gêneros que mais consome, além de romances e suspense. “Ultimamente, também tenho me interessado muito por livros que falam sobre o feminismo.”
Como incentivar o hábito da leitura?
Dayane acredita que a melhor forma de incentivar o hábito da leitura é ler o que realmente deseja. “Esquece isso de ‘leitura de qualidade’, qualquer livro que te chamar a atenção é bem vindo e com o tempo você vai evoluindo como leitor, amadurecendo o seu gosto”, comenta. Segundo ela, é comum que muitas pessoas achem que não gostam de ler, o que, na visão dela, é resultado de ainda não terem encontrado o gênero certo. “Começou a ler e não tá fluindo? Está pensando em dormir a cada página que vira? Então deixa esse livro de lado e vai tentar algo novo: clássico, chick-lit (com foco no público feminino), ação, terror, infantojuvenil, erótica ou fantasia”, explica.
Já Alessandra recomenda iniciar o hábito da leitura com trilogias. Segundo a docente, nesse tipo de livro, ao final de cada volume, costuma haver uma questão a ser desvendada, cuja resposta será revelada na obra seguinte. “Assim, a curiosidade estimula para continuar a leitura da história. Isso funciona muito com crianças e adolescentes. Criando este hábito nesta faixa etária, certamente será mantido na vida adulta”, explica.
Um país com baixo índice de leitores
Ainda que estudos apontem que o brasileiro está lendo cada vez mais, infelizmente, o País, que em 2017 possuía 11 milhões de analfabetos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), continua registrando indicadores que não são tão satisfatórios quando o assunto é leitura. Ainda sobre a pesquisa do Instituto Pró-Livro, um dado chama a atenção: 30% dos entrevistados responderam que nunca compraram um livro. Já o Índice de Cultura Mundial, da Market Research World, aponta que o Brasil ocupa a 27ª posição no ranking de países que mais leem no mundo, sendo a Índia a líder do ranking.
“Na minha opinião, os índices de leitura no Brasil só podem melhorar por meio da educação, outra área muito pouco valorizada pelos nossos governantes. Nos países com altos índices de leitura, a educação também é de alta qualidade”, afirma Alessandra. Já Dayane vê as mídias digitais como uma boa porta de entrada para fomentar o hábito da leitura. “Ler é uma atividade libertadora, que abre portas para sua imaginação voar sem barreiras. Por isso, é importante entender o potencial dessas plataformas promissoras, que podem facilitar na criação de sólidos hábitos de leitura entre brasileiros”, afirma.
Dicas para ler mais
Confira algumas dicas que podem te ajudar a desenvolver/aprimorar o hábito da leitura de livros:
1. Leia no seu tempo – Há quem pense que, para adquirir o hábito da leitura, é preciso dedicar muito tempo do dia. Desprenda-se desse pensamento. Você pode tentar inserir uma rotina de leituras curtas em seu cotidiano, de dez minutos, por exemplo.
2. Desconecte-se do que pode te dispersar – Em uma era carregada de informações, dispositivos móveis e atrações podem ameaçar a concentração. Procure se desconectar de tudo que possa tirar sua atenção da leitura ou até mesmo fazer se esquecer do que estava lendo.
3. Deslocamentos, filas e momentos de espera podem ser ótimas oportunidades para ler – Dependendo do grau (ou existência) de conforto e ambiente propício, você pode aproveitar momentos como o deslocamento para casa no transporte público, filas longas ou salas de esperas para aprimorar seu hábito de leitura. Além de tornar esses momentos menos maçantes, pode ser uma ótima oportunidade de absorver conteúdo, especialmente se você precisa ler um livro acadêmico.
4. Deu sono? Não se intimide com ele – Você certamente já teve que parar sua leitura ou já ouviu alguém comentar que não gosta de ler porque “dá muito sono”. Isso pode ter como fundo o cansaço do dia ou hábitos ruins como má alimentação, posturas ou respiração incorretas – e que devem ser checados e corrigidos junto aos profissionais especializados. Se você percebe que está gostando do livro, mas não consegue lê-lo por conta da sonolência, teste horários e ambientes diferentes (mais iluminados, com música, no quarto, no banheiro etc.) e veja em qual deles a leitura flui melhor.
5. Você pode sim desistir de ler um livro – O hábito de ler deve vir sempre acompanhado pelo prazer em apreciar a publicação. Se você perceber que a história não te empolgou e a leitura virou mais obrigação do que um desejo espontâneo, melhor desistir da obra e partir para outra. Mas cuidado: alguns livros realmente demoram para “engatar”, então, não desista já no primeiro capítulo.
Algumas sugestões como ponto de partida:
Quer ler mais? Você pode começar por um desses caminhos abaixo:
Você pode iniciar pelos best-sellers. Se você utiliza transporte público, já reparou em algum livro que as pessoas costumam ler? Já sentiu curiosidade em conhecê-lo? Então, comece por ele! Normalmente, esses livros possuem tramas atrativas, com linguagem fácil e pelo fato de serem sucesso de vendas, certamente você possui algum amigo que já leu ou terá mais facilidade em encontrar recomendações.
Gostou de um filme ou game? Que tal ler o livro que o inspirou? É cada vez mais comum que livros de sucesso se tornem filmes, como a saga Harry Potter, Jogos Vorazes ou O Código da Vinci. Quando isso acontece, é comum que surja o interesse em conhecer as tramas que originaram as produções cinematográficas. Se você gostou muito de um filme nesse sentido, essa pode ser a sua oportunidade para criar o hábito de ler um livro. O mesmo vale para alguns games, como Diablo e God of War, que possui versões escritas.
Tem fascínio por um artista, empresário ou uma personalidade? Procure ler sobre a pessoa. Todo mundo que tem apreço por uma figura pública tem curiosidade em saber sua história. Atentas a isso, todo ano, as editoras especializadas lançam diversos títulos contando sobre a vida de famosos – sejam YouTubers, famosos musicais como Rita Lee e seu best-seller Rita Lee – Uma Autobiografia, empresários como Steve Jobs e ativistas como Malala Yousafzai. Tem opções para vários gostos!
Pensa em fazer um curso, aprimorar uma habilidade profissional ou seguir uma profissão? Leia sobre assuntos relacionados. Outro gancho que pode te ajudar a criar/fortalecer o hábito de leitura é procurar obras relacionadas ao que deseja fazer. Por exemplo, se você pretende cursar jornalismo, livros que são referência no tema podem te despertar o gosto pela leitura. O mesmo vale para aprimorar alguma capacidade profissional, como falar em público, o desejo de abrir seu próprio negócio, interesse por uma área na qual deseja cursar pós-graduação ou um tema que te despertou uma simples curiosidade, como Sustentabilidade ou Política.
De acordo com a professora Cleusa Sakamoto, ler é adentrar territórios de conhecimento que ampliam a forma de ver o mundo e criam uma base de informações úteis para você fazer julgamentos e tomar decisões. “Pessoas que costumam ler desenvolvem a capacidade de pensar diferentes cenários para uma mesma situação. Ler é uma forma livre de desenvolver sua inteligência!”, afirma Cleusa.
Com informações de: Burnbook, Exame, Guia do Estudante, Tag Livros, Porvir.