Iniciativa torna o processo de aprendizagem do Braille mais lúdico e promove maior interação entre alunos e a comunidade
Por Danilo Moreira
As atividades lúdicas são capazes de proporcionar experiências incríveis ao desenvolvimento e integração entre crianças. Prova disso é o projeto experimental Braille Bricks, que transforma peças do tipo LEGO em uma ferramenta poderosa na alfabetização e inclusão de alunos com deficiência visual. A iniciativa foi criada e desenvolvida durante um ano pela dupla Ulisses Razaboni e Leandro Pinheiro sob a liderança do vice-presidente da agência Lew’Lara\TBWA, Felipe Luchi, em parceria com a Fundação Dorina Nowill para Cegos.
A ideia surgiu da semelhança dos pontos do alfabeto em Braille com a parte de cima dos tradicionais blocos de montar. A construção do produto também teve o apoio da LEGO, por meio da LEGO Education, setor focado em ações nas áreas da Educação e Robótica. Em depoimento publicado no site do projeto, o LEGO Design Specialist Arthur Sacek afirma que foi mantida a essência do produto original, com a diferença que os blocos ganharam características que possibilitam o trabalho com deficientes visuais. De acordo com o designer, o brinquedo não será bom apenas para os alunos, mas também para os professores que terão mais ferramentas para trabalhar e toda a comunidade. “Imagina aquelas escolas que tem uma máquina de escrever (em Braille) na qual perfuram o papel. Com ele é diferente. Se eu errei, não tem problema nenhum, eu tiro a peça e coloco outra”, explica. A novidade foi distribuída para crianças entre sete e dez anos que estudam na Fundação Dorina Nowill para Cegos.Segundo a Assessora da Fundação Eliana Cunha, o Braille está para uma criança cega o que a caneta é para a que enxerga. E este processo de aprendizado ganha mais possibilidades e também ajuda os alunos no resgate da sua autoestima. “Você trazer um brinquedo colorido, que todos têm e com características para uma criança com cegueira, é um marco interessante em todos os sentidos”, afirma.
De acordo com Eliana, o Brasil ainda é carente da oferta de materiais adaptados para o aprendizado de crianças com deficiência visual, e os poucos que existem precisam receber ajustes pelos professores e pais dos alunos. Ela afirma que a criação dos blocos torna a missão de ensinar e incluir crianças com deficiência visual uma tarefa mais prazerosa para todos. “Nosso objetivo é mostrar que uma sociedade inclusiva é boa para todo mundo”, explica a especialista.
Para a professora de Educação Inclusiva Flora Bitancourt, é extremamente importante que nesta fase de desenvolvimento dos alunos a escola ofereça brinquedos lúdicos que estimulem a sua criatividade, imaginação e expressividade. Segundo ela, o Braille Bricks dá a oportunidade de uma integração real na sala de aula. “Foi lindo ver uma criança que enxerga poder escrever uma frase em Braille para o seu amigo que não vê, contar uma história ou algo que gosta para ele e vice-versa”, comenta a docente.
O Braille Bricks está em fase de expansão e para atrair o interesse de fabricantes para produzirem o brinquedo em grande escala, foi criada a hashtag #BrailleBricksForAll, que vem sendo divulgada e compartilhada nas mídias sociais. Segundo o Addictable, a organização já produziu peças suficientes para 300 crianças. De acordo com informações do portal Meio & Mensagem, o projeto foi inscrito para votação no site LEGO Ideas, na qual seriam necessários 10 mil votos para que a marca avaliasse a possibilidade de produzir os blocos em escala global. A iniciativa, porém, acabou recusada pela empresa dinamarquesa, sob a alegação de que o produto original foi “alterado demais”. Buscando então outras formas para divulgar o brinquedo, a Braille Bricks disponibilizou a patente na licença Creative Commons, que permite que qualquer empresa possa utilizá-lo e executá-lo em ações para mais crianças. A ação repercutiu em todo mundo, chegando até à Casa Branca, que divulgou as peças em um post na sua conta oficial no Twitter.
Em entrevista ao site Addictable, o CCO da Lew’Lara\TBWA, Felipe Luchi comenta sobre a satisfação da empresa com a contribuição da iniciativa. “Ver crianças deficientes e não deficientes reunidas em torno desse produto – brincando e aprendendo – nos deixou muito felizes. Mas a meta é torná-lo um produto global.”
Para apoiar a campanha, basta acessar o site do projeto e enviar sua mensagem por meio das mídias sociais disponíveis, além de também poder assistir mais depoimentos interessantes sobre o produto. É possível também acompanhar todas as novidades sobre a iniciativa no perfil do Facebook e Twitter.
Eliana reforça que o brinquedo é o principal instrumento de desenvolvimento para uma criança. “É a partir dele que o mundo se descortina, fazendo com que ela encare a deficiência visual de uma forma mais leve, e à medida que ela tem mais recursos para lidar com esta característica, poderá consegue engajar mais crianças no seu processo de desenvolvimento. É na relação de troca que o ser humano constrói e se descobre”, comenta a assessora.
Em tempos na qual a Educação no Brasil tem enfrentado diversas dificuldades, o Braille Bricks é um exemplo de como é possível promover de forma lúdica o aprendizado de uma língua essencial para a comunicação das pessoas com deficiência visual e estimular a integração não só de pais, alunos e professores, mas de todos os envolvidos neste processo constante de troca e evolução mútua.
Para saber mais, assista também ao vídeo de divulgação do projeto clicando aqui.
Fonte: Addictable, Braille Bricks, Meio & Mensagem, Hypeness
Fotos: Divulgação