Iniciativa foi desenvolvida em parceria com o Centro de Valorização da Vida e busca identificar pessoas com ideias suicidas
Por Danilo Moreira
A tentativa de suicídio é um sintoma crítico que atinge milhões de pessoas no mundo, inclusive jovens. Apesar de haver um aumento na abordagem sobre o problema nos últimos anos, ainda é necessária mais ações de auxílio para quem precisa de ajuda. Pensando nisso, desde junho, o Facebook possui uma ferramenta que busca ajudar na prevenção. Usuários que identificarem conteúdos com ideias suicidas, pessimistas, de automutilação e outras relacionadas aos sintomas da depressão podem reportá-las ao site. A pessoa que fez a publicação recebe uma notificação com algumas opções de ajuda e contatos para receber orientação e atendimento especializado. No Brasil, a ação é uma parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), instituição que gratuitamente oferece apoio emocional e prevenção ao suicídio.
Quem identificar entre seus contatos alguma publicação que indique esses problemas deverá clicar na seta na parte superior direita do post e escolher “Denunciar publicação”. Em seguida, deve selecionar a opção “Mostra ou promove o suicídio ou automutilação”. O Facebook apresenta algumas alternativas como “Ofereça ajuda ou apoio”, “Contatar um amigo” e “Peça para verificarmos a publicação”. Clicando nesta última opção, a equipe da rede social vai analisar o conteúdo e, em caso de procedência, enviará ao autor uma notificação com alguns itens de ajuda, dentre eles a indicação de procurar apoio e atendimento no CVV.
Quem enviou o conteúdo para a análise não terá seu nome divulgado e também recebe uma mensagem com dicas sobre como ajudar quem enfrenta dificuldades emocionais. Antes de concluir o pedido, há também o item “Saber como conversar com [nome do autor do post] sobre isso” que também oferece informações e telefones para quem necessitar de ajuda na abordagem.
A ferramenta foi lançada em 2015 primeiramente nos Estados Unidos e Austrália. No mês passado passou a ser disponibilizada para todo o mundo incluindo o Brasil. A iniciativa faz parte do Plano de Ação de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde (OMS), que tem como uma das metas reduzir em 10% o índice de suicídios no mundo até 2020.
A ferramenta no Facebook reflete uma parceria de peso na atualidade, pois, une o poder das mídias sociais na comunicação das pessoas e ações efetivas voltadas à prevenção da saúde e bem estar humano, que pode salvar milhares de vidas. Outro ponto que a novidade aborda é o isolamento das pessoas e seus problemas atuais. “Na vida atribulada na qual a sociedade está cada vez mais envolvida, a falta de contato genuinamente humano de troca interpessoal influencia o grau de distanciamento entre as pessoas e pode gerar transtornos mentais. Adoecemos psicologicamente quando nos mantemos à margem das relações afetivas de troca porque estas dão significado ao processo de existir”, afirma a psicóloga Cleusa Sakamoto.
De acordo com a OMS, a cada 40 segundos uma pessoa no planeta tira a própria vida, sendo esta a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos de idade, ficando atrás apenas dos acidentes de trânsito. O Brasil ocupa o oitavo lugar na lista de países com mais casos. Somente em 2012, foram registradas 11.821 mortes em território brasileiro. A OMS afirma que 90% das ocorrências podem ser prevenidas com auxílio profissional ou assistência voluntária. “As ideias relativas à perda da vida são geralmente sinais de grande sofrimento emocional e de extrema desesperança. Portanto, esses fatores simbolizam urgência no cuidado de quem sofre”, explica Cleusa.
Auxílio gratuito
O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma associação fundada na cidade de São Paulo em 1962. A instituição não tem fins lucrativos e presta serviço voluntário e gratuito oferecendo apoio emocional e prevenção ao suicídio. A associação é parceira da Befrienders Worldwide, entidade que reúne organizações com o mesmo propósito em todo o mundo. No Brasil, o CVV participou da força tarefa que elaborou a Política Nacional de Prevenção do Suicídio do Ministério da Saúde.
De acordo com o site da Associação, anualmente são realizados mais de um milhão de atendimentos por cerca de 2.000 voluntários em 18 estados, além do Distrito Federal. O CVV também realiza ações sociais que estimulam o autoconhecimento, melhor convivência em grupo e valorização da autoestima em comunidades de todo o Brasil. A instituição também mantém o Hospital Francisca Julia, que atende pessoas com transtornos mentais e adictos, localizado em São José dos Campos, interior de São Paulo.
Qualquer pessoa que necessite conversar em função de algum tipo de angústia intensa e perturbadora pode entrar em contato pelo telefone 141 (24 horas), ou pelo site (lá têm opções de conversa via chat, Skype e e-mail) ou pode procurar atendimento pessoalmente nos 72 postos do CVV espalhados pelo país. Todo contato é gratuito e realizado com total sigilo ético.
Quem sente vontade de ajudar pessoas pode se inscrever como voluntário e atuar como plantonista do Programa de Apoio Emocional do CVV. É necessário ser maior de 18 anos e ter pelo menos quatro horas disponíveis por semana. A instituição oferece um curso gratuito de preparação para o atendimento de escuta nas unidades em todo Brasil, capacitando o voluntário para atender aqueles que procuram a Associação pelo telefone, Skype e chat. Para saber mais informações e se inscrever, clique aqui.
O CVV participou do Google Impact Challenge Brasil 2016 pela Região Sul e ficou entre os cinco inscritos pré-finalistas com o projeto do aplicativo “Como Vai Você”. A ferramenta facilita a comunicação de pessoas que buscam ajuda emocional com voluntários do CVV, aumentando as possibilidades de atendimento assistencial. O app foi um dos finalistas da competição, que é promovida pelo Google e busca reconhecer projetos inovadores que utilizam a tecnologia para a mudança social. A posição conquistada pelo CVV lhe rendeu um prêmio de R$ 650.000 para colocar a ideia em prática. Agora é torcer para que a novidade logo esteja disponível e mais pessoas possam ser ajudadas.
Fontes: CVV, O Estado de S. Paulo, G1 (Programa Bem Estar), Gizmodo, IDGNOW!, Super Interessante, BBC
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