Gênio Criador Editora

Conheça 12 livros acadêmicos sobre índios

Obras contam mais sobre aspectos históricos, sociais, culturais e linguísticos da população indígena brasileira

Por Danilo Moreira

O que você conhece sobre a população indígena do Pais? Infelizmente, além das notícias desanimadoras sobre as condições e violências que esses povos sofrem cotidianamente, ainda existe pouca fomentação ao conhecimento da cultura, características, suas tradições e a representatividade que possuem para o País.

Em homenagem ao Dia do Índio, celebrado no dia 19 (saiba mais sobre a origem dessa data no final da matéria), a Gênio Criador Editora reuniu algumas indicações de obras acadêmicas que abordam as lutas, desafios e características dessa população riquíssima em cultura, tradição e curiosidades. Veja a seguir:

1. História da resistência indígena - 500 anos de luta, de Benedito Prezia

Durante o lançamento do livro em 2017, o historiador e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Benedito Prezia contou, em entrevista à Revista Cult, que a ideia foi “criar uma história indígena do Brasil, sob o ponto de vista de seus personagens e protagonistas”. O livro reúne textos que o autor publicou ao longo de nove anos no jornal indigenista brasiliense Porantim. A obra, publicada pela Editora Expressão Popular, percorre a História do Brasil desde a chegada dos portugueses até os anos 2000, passando pela escravização indígena, a conquista de terras, os conflitos, o contato com bandeirantes, a organização de movimentos de resistência e outros fatores históricos. O autor busca mostrar não só que a conquista do Brasil – assim como o do restante do continente americano – foi palco de um genocídio, mas que os índios foram protagonistas de suas lutas e resistências.

2. Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil moderno, de Darcy Ribeiro

Escrito pelo reconhecido antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997), a obra faz uma análise profunda das relações entre as etnias indígenas e a expansão econômica do Brasil na primeira metade do século XX. Conhecedor da diversidade dos povos indígenas, Ribeiro avalia como os habitantes nativos do Brasil lidaram com o crescimento de atividades como agricultura, pecuária e a urbanização acelerada que transformou um País tipicamente rural, passando a ter uma população predominantemente urbana. Além de destacar as consequências desse período para os índios – como o extermínio – o autor também observa os mecanismos de adaptação que permitiram a sobrevivência e perpetuação do seu legado. Publicado originalmente em 1970, teve sua 7ª edição publicada em 2017 pela Global Editora.

3. O Caráter Educativo do Movimento Indígena Brasileiro (1970-1990), de Daniel Munduruku

Daniel Munduruku nasceu em Belém (PA) e é filho do povo Munduruku. Formado em Filosofia, com Licenciatura em História e Psicologia, possui Mestrado em Antropologia Social e Doutorado em Educação – ambos pela Universidade de São Paulo (USP). É o autor indígena brasileiro com mais publicações em livros (mais de 40, especialmente para o público infantil, inclusive com títulos disponíveis no exterior). Já recebeu reconhecimento em prêmios como o Jabuti, da Academia Brasileira de Letras, Érico Vanucci Mendes (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq) e de Tolerância (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco). Munduruku também é diretor do Instituto UKA – Casa dos Saberes Ancestrais, que atua na área da Educação tem como foco a disseminação da cultura indígena.

Daniel Munduruku - divulgação

Lançado em 2012 pela Paulinas, O Caráter Educativo do Movimento Indígena Brasileiro (1970-1990) é fruto da tese de Doutorado de Munduruku. O autor aborda sobre a trajetória e configuração do Movimento Indígena durante o período, passando pelas primeiras assembleias indígenas nos anos 1960/70; percorrendo a década de 1980, na qual foram criadas associações como a União das Nações Indígenas, UNI e o Núcleo de Direitos Indígenas, (NDI); até os anos 1990, em que cresce a participação indígena no Estado, o acesso à Educação e o protagonismo em lutas como a demarcação de terras. O livro conta com entrevistas de personalidades do movimento, que lutaram para a valorização da cultura e dos povos indígenas. Basicamente, é uma obra que reflete como o movimento indígena ajudou no processo de redemocratização do País.

4. Contos Indígenas Brasileiros, de Daniel Munduruku

Lançada em 2004, essa outra obra do premiado escritor de origem indígena reúne oito contos selecionados pelo autor por meio de um critério linguístico. Os textos abordam sobre as trajetórias de alguns dos povos indígenas existentes no Brasil, como os Guarani, Karajá, Munduruku, Tukano, entre outros. Com foco no público infantil, o livro trabalha com os mitos que simbolizam a caminhada dessas populações, mostra a riqueza cultural que possuem, além de valorizar a memória ancestral e auxiliar professores no trabalho da temática do índio com seus alunos de forma lúdica. A edição mais recente (8ª) foi publicada pela Global Editora.

5. A queda do céu: palavras de um xamã Yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert

O líder e xamã Yanomami Davi Kopenawa é uma das personalidades indígenas brasileiras mais conhecidas da atualidade, sendo porta-voz da luta dos povos da Amazônia contra a exploração do homem branco por meio da exploração de terras e epidemias geradas pela poluição ambiental local. Além de já ter trabalhado como tradutor da Funai, foi responsável pela demarcação do território Yanomami em 1992. Já participou de diversos fóruns internacionais e recebeu o prêmio ambiental “Global 500” (das Nações Unidas), sendo o único brasileiro além do ativista Chico Mendes (1944-1988) a receber o título. Por meio desse livro, Kopenawa faz um poderoso manifesto xamânico, além de um rico relato autobiográfico de quem viu seu povo sofrer violências. A obra foi publicada originalmente em francês (La chute du ciel: paroles d'un chaman Yanomami), em 2010, pelo etnólogo-escritor Bruce Albert, por quem o xamã tem uma relação de amizade há mais de 40 anos. Posteriormente, ganhou tradução em inglês e, finalmente, em português, sendo lançado no Brasil em 2015 pela Companhia das Letras.

6. Políticas culturais e povos indígenas, de Pedro de Niemeyer Cesarino e Manuela Carneiro da Cunha (org.)

Publicada pela Editora Unesp e com organização dos antropólogos Pedro de Niemeyer Cesarino e Manuela Carneiro da Cunha, o livro reúne 19 ensaios que refletem sobre as políticas culturais feitas para a população indígena, as produzidas por eles mesmos e aquelas que de alguma forma os envolvem, levando em consideração a enorme diversidade desses povos e suas peculiaridades. A obra conquistou reconhecimento na edição 2015 do Prêmio Jabuti, na categoria “Ciências Humanas”.

7. Arte Indígena do Pré - Colonial à contemporaneidade, de Percival Tirapeli

Por meio de uma linguagem clara e objetiva, o livro aborda desde a arte rupestre até a representação da população indígena contemporânea, com uma dose de curiosidades arqueológicas. A obra foca principalmente em legados concentrados em áreas com forte presença dos índios e ancestrais americanos, como as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste do Brasil. Lançado em 2006 pela Companhia Editora Nacional, o livro faz parte da coleção Arte Brasileira, composta por cinco volumes, cujo objetivo é retratar a história das artes no País.

8. Nem cidadãos, nem brasileiros: indígenas na formação do Estado nacional brasileiro e conflitos na província de São Paulo (1822-1845), de Fernanda Sposito

Fruto da dissertação de Mestrado em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, o livro, publicado pela Alameda Editora, aborda sobre o quanto a questão indígena foi importante para a formação do Estado e nação brasileiros, merecendo seu lugar de relevância na historiografia. A obra aborda sobre o cotidiano das relações entre paulistas e índios que viviam na região no século XIX, época do Brasil Império, bem como seus pontos delicados, peculiaridades e conflitos.

9. O Mundo Indígena na América Latina – Olhares e Perspectivas, de Beatriz Paredes (coord.), Gerson Damiani, Wagner Pinheiro Pereira e María Antonieta Gallart Nocetti (org.)

O livro é o quinto volume da série Cátedra José Bonifácio e é um registro de debates realizados durante o ano de 2017, sob coordenação da socióloga, diplomata e política mexicana Beatriz Paredes. A obra reúne textos da pesquisadora, além de produções de intelectuais e especialistas de instituições latino-americanas renomadas, incluindo da USP, que participaram de pesquisas importantes sobre a temática indígena. Os conteúdos trazem reflexões, perspectivas e análises sobre os povos indígenas da América Latina, bem como sua relevância histórica, legados e características.

LIVROS GRATUITOS

Livros sobre população indígena

A Funai também disponibiliza algumas obras gratuitas on-line para quem deseja saber mais sobre questões relacionadas à população indígena. Confira algumas obras a seguir:

10. Política indigenista leste e nordeste brasileiros, de Marco Antônio do Espírito Santo (org.)

Obra organizada pelo sociólogo Marco Antônio do Espírito Santo e publicada em 2000, é uma coletânea de estudos produzidos por vários antropólogos especialistas. Os trabalhos foram apresentados durante o workshop “Política Indigenista para o Leste e Nordeste Brasileiros”, promovido pela instituição na cidade de Carpina (PE) em 1997. A ideia é analisar as práticas indigenistas do Governo e instituições relacionadas nas regiões Leste e Nordeste, tendo como referência casos de sucesso. Algumas populações como os Fulniô, Xukuru-Karir e Pataxó são alguns dos abordados no livro, que está disponível em PDF no site da Funai.

11. A aquisição da escrita e diversidade cultural – a prática dos professores Xerente, de Susana Martelletti Grillo Guimarães

No Brasil, sabe-se que são faladas cerca de 170 línguas indígenas. Contudo, conforme aponta a autora, a professora Susana Martelletti Grillo Guimarães, pouco se sabe sobre a situação social do uso desses vocabulários nos territórios onde essas populações vivem. Publicada em 2002, a obra é uma reflexão sobre a Educação nas comunidades indígenas como fomento à valorização da língua e identidade nativas, já que tendem a perder espaço para as influências da língua portuguesa. A especialista realizou uma pesquisa com o povo Xerente, que fica no Tocantins, e compartilha detalhes da realidade de professores indígenas diante de uma educação escolar que caminha entre a língua nativa e a portuguesa. A Funai disponibiliza gratuitamente uma versão on-line do livro, que você pode conferir aqui.

12. O índio na literatura infanto-juvenil no Brasil, de Cleide de Albuquerque e Hilda Carla Barbosa (org.)

Publicado em 2003, o catálogo reúne mais de 150 obras que abordam ou fazem alusão sobre o universo indígena. Dessa lista participam autores como Daniel Munduruku, Pedro Bandeira, Ana Maria Machado, Maurício de Sousa, Cláudio e Orlando Villas Bôas, Érico Veríssimo, Odette de Barros Mott, Clarice Lispector, Luci Guimarães Watanabe, Ciça Fittipaldi, entre outros. O livro tem como objetivo ser acervo de referência para o público infantojuvenil e docentes que desejam trabalhar a temática do índio com estudantes dessa faixa. Consulte a versão on-line gratuita aqui.

Como você pode conferir, há diversos livros que analisem a riqueza cultural, a diversidade, a tradição, as lutas, mazelas e curiosidades desses povos que resistem há quase 520 anos a invasões e violências. O Censo de 2010 do IBGE aponta a existência de 817,9 mil índios no País (10% do total existente em 1500), que integram cerca de 305 povos indígenas. Ainda que a Lei 11.645, de 2008, fomente o ensino da história e cultura indígenas para aprimorar o conhecimento, respeito e valorização pela população, os esforços ainda precisam ser mais aprimorados.

COMO SURGIU O DIA DO ÍNDIO?

Dia do Índio

Conforme citado no começo da matéria, no dia 19 de abril, tradicionalmente, é celebrado o Dia do Índio. A origem da data remonta a 1940, quando foi realizado o Congresso Indigenista Interamericano na cidade de Patzcuaro (México). Participaram 55 delegações oficiais e 47 representantes indígenas de todo o continente americano. O Brasil foi representado pelo antropólogo, etnólogo e pesquisador Edgar Roquette-Pinto.

A convenção definiu algumas medidas em defesa dos povos indígenas, como o respeito à igualdade de direitos e oportunidades. Dentre as ações estava prevista a criação do Dia do Aborígene Americano em 19 de abril. O Brasil só aderiu à data em 1943, quando o então presidente Getúlio Vargas instituiu o decreto-lei, convencido pelo marechal Cândido Rondon, que tinha origem indígena por parte dos bisavós. O militar também foi criador do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) em 1910, que viria a se tornar a Funai em 1967.

Com informações de: Funai, O Globo, NexoBBC Brasil
Fotos: (Imagens de capa e 3) Agência de Notícias do Acre, (2) Divulgação, (4) Secretaria Especial de Cultura (Ministério da Cidadania)

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