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Conheça o crowdfunding: um recurso para colocar seu projeto em prática

O crowdfunding é uma ótima alternativa para quem possui uma ideia, mas tem dificuldades financeiras para tirá-la do papel

Por Danilo Moreira

Certamente, você já leu notícias de invenções cujo financiamento só foi possível graças à divulgação do projeto em uma plataforma de crowdfunding. Aqui mesmo no Gênio Criador já contamos alguns casos muito interessantes, e que conseguiram ser colocados em prática após receberem doações em dinheiro por milhares de pessoas por meio de um site especializado nessa função. Mas, como funciona esse tipo de colaboração? É realmente possível que qualquer pessoa que tenha um projeto possa obter financiamento por meio desses sites? Saiba como o crowdfunding pode te ajudar a tirar a sua ideia do papel.

O crowdfunding (ou financiamento coletivo, em português) é uma modalidade de investimento que busca financiar um projeto por meio de doações realizadas por várias pessoas interessadas. Esse recurso pode ser utilizado para ideias, produtos, startups e outras iniciativas de qualquer segmento, como comunicação, direitos humanos, ciência, tecnologia, sustentabilidade, saúde, música, literatura, cinema, design, entre outras. É uma ótima oportunidade para inventores individuais ou grupos, além de artistas e outros perfis empreendedores que não dispõem de recursos financeiros para colocar suas criações em prática, ou não estão dispostos a lidar com burocracias e dificuldades relacionadas aos meios de financiamento tradicionais, como bancos. Mesmo os que já possuem fundos, podem utilizar este formato para levantar um capital diferenciado para determinado fim.

Para obter esse tipo de financiamento, é necessário que o(s) empreendedor(es) divulguem o seu projeto em um site de crowdfunding com textos e vídeos explicativos, que exponham detalhes sobre o projeto e especifiquem quanto precisam arrecadar para executá-lo. As plataformas costumam contar com uma curadoria para avaliar os projetos que serão divulgados no site. Após a aprovação, são definidos o prazo para a captação, a meta e quais recompensas podem ser oferecidas para quem apoiar o projeto. A iniciativa é divulgada, e se atingir a meta dentro da data estabelecida, ele é bem sucedido e o(s) idealizador(es) recebem o dinheiro que conseguiram. Caso não a arrecadação não alcance o valor estipulado, dependendo da plataforma, existe duas possibilidades de conclusão do processo: ou o montante acumulado é devolvido aos investidores (modelo de arrecadação conhecido como “tudo ou nada”) ou o que foi obtido é pago normalmente ao autor do projeto (modelo “flexível”). Normalmente, é recolhido entre 5% e 15% do valor arrecadado para a plataforma que divulgou o trabalho.

Existem sites de crowdfunding que aceitam projetos de diversas áreas, como a gigante Kickstarter, o mais famoso site de financiamento coletivo do mundo. Outras são especializadas em segmentos específicos, como as dedicadas a financiar bandas e shows, como a Queremos!, e até na produção de cerveja, caso da Social Beers. Uma vantagem interessante é que, na prática, o empreendedor que divulga seu projeto nesses sites ganha uma boa noção do potencial da sua ideia por meio da repercussão de sua campanha.

Mas qual seria exatamente o interesse de pessoas em doar dinheiro para projetos via crowdfunding? São muitos, mas, de modo geral, são investidores que observam boas oportunidades de negócio com o desenvolvimento ou comercialização daquele produto, bem como “changemakers” engajados na resolução de problemas sociais urgentes ou de saúde pública, por exemplo. Muitos empreendedores que divulgam suas ideias nesses sites costumam recompensar seus investidores com alguns brindes, prêmios, parcerias e até com participação nos lucros da iniciativa.

O crowdfunding tem ganhado cada vez mais espaço no mundo como uma alternativa interessante para arrecadar fundos. Segundo o coautor do livro “The crowdfunding revolution” (Revolução do Crowdfunding, em português) Kevin Lawton, existem mais de 175 plataformas virtuais destinadas a esse tipo de investimento no globo. Empresas famosas como Wikipedia, Linux e YouTube e bandas como Dead Fish também promoveram campanhas de financiamento coletivo.

Para Diego Reeberg, fundador do Catarse – um dos primeiros sites brasileiros de financiamento coletivo – o crescimento mundial dessa prática se dá pelo fato das principais formas tradicionais de financiamento não darem conta de abarcar todos os tipos de projeto que precisam de recursos. “Além disso, o avanço da internet, principalmente após as ferramentas de interação terem se consolidado, facilitou que uma boa ideia/projeto se espalhasse para muito mais gente do que a rede de pessoas próximas, ultrapassando os limites geográficos que restringiam de onde viria financiamento”, afirma, em entrevista ao Sebrae.

Alguns cuidados são importantes ao buscar financiamento coletivo por meio dessas plataformas. Em primeiro lugar, é necessário o conhecimento dos pontos principais e os mais vantajosos do projeto, pois são cruciais para uma divulgação convincente. Em segundo lugar, a escolha da recompensa aos investidores, algo que deve ser bem calculado para não se tornar uma dor de cabeça futura. “E, por fim, não se pode achar que, pelo fato de o projeto estar numa plataforma, surgirão pessoas do nada para apoiá-lo. Captar via crowdfunding dá muito trabalho e exige disposição e atenção diária com a campanha para ela dar certo”, afirma Reeberg.

Origens

O termo crowdfunding foi criado em 2006 por Michael Sullivan, empresário norte-americano que é entusiasta em projetos desse tipo. Mas a prática de financiamento coletivo é antiga. Em 1713, o Papa Alexandre recebeu o apoio de 750 investidores para conseguir concluir a tradução e manuscrever as Ilíadas de Homero do grego para o inglês. Já em 1885, os Estados Unidos realizaram uma campanha por meio do jornal The New York World para a construção de um pedestal para a Estátua da Liberdade, presente dos franceses. Chegaram a arrecadar contribuições de mais de 100.000 dólares em todo o mundo.

Já a prática de financiamento coletivo por meios digitais emergiu no final dos anos 1990. Segundo o portal Free The Essence, a primeira iniciativa de crowdfunding aconteceu há duas décadas. Em 1997, fãs da banda Marillion arrecadaram 60 mil dólares para uma tour do grupo. A iniciativa deu certo e a banda passou a financiar seus álbuns da mesma forma. No mesmo ano, o diretor e roteirista Mark Tapio Kines criou um site com o objetivo de arrecadar fundos para o seu filme “Foreign Correspondents”. Chegou a arrecadar mais de 125 mil dólares de dezenas de fãs até o começo de 1999.

artShare

Nos anos 2000, a prática se tornou ainda mais popular. A plataforma ArtistShare era lançada nos Estados Unidos em 2003 e, por meio dela, músicos passaram a buscar doações dos fãs para desenvolverem seus projetos musicais como shows e álbuns. Em 2008, nasceu a Indiegogo e em 2009 a Kickstarter, empresas que popularizaram o crowdfunding como conhecemos hoje, mostrando como o potencial da internet inovou a possibilidade de captação de recursos em escala global. No Brasil, o conhecimento sobre as possibilidades deste modelo tem ganhado cada vez mais os jornais e as mentes dos empreendedores, tendo como principais pioneiras a plataforma Vakinha, lançada em 2009, e a Catarse, fundada em 2011.

Existem diversos tipos de sites de crowdfunding tanto no Brasil quanto no mundo, que variam de acordo com regras, processos seletivos, taxas, modelos de arrecadação e até nichos que atendem. É importante fazer uma minuciosa pesquisa para saber qual plataforma é mais adequada para a divulgação da sua ideia. Se você, por exemplo, tem um projeto social, é mais interessante divulgar em plataformas focadas no Terceiro Setor, que concentram o perfil de pessoas que possam se interessar pela sua inciativa.

Listamos abaixo algumas plataformas de crowdfunding conhecidas no Brasil:

Kickante

Kickante

Um dos nomes mais famosos no Brasil quando o assunto é crowdfunding é o Kickante, criado em 2013 pelos irmãos Candice Pascoal e Diogo Pascoal. A plataforma trabalha tanto com o modelo “tudo ou nada” (o empreendedor recebe apenas se atingir a meta) quanto o “flexível” (recebe o dinheiro levantado). Para o primeiro, o site fica com 12% do valor arrecadado, já na segunda opção, a fatia é de 17,5%. Além disso, aceita doações de outros países por meio do PayPal. É comum que as campanhas utilizem um modelo na qual os empreendedores coloquem o próprio produto como recompensa para os investidores, quando atingem a meta de arrecadação. A plataforma possui em sua lista de iniciativas de destaque projetos de grandes ONGS como Greenpeace e Médicos Sem Fronteiras, além de inciativas de artistas e de outros tipos de empreendedores.

Catarse

Catarse

Fundada em 2011, a Catarse é uma das primeiras plataformas de financiamento coletivo do Brasil. O site já financiou mais de 3.300 ideias, totalizando 50 milhões de reais levantados desde a sua fundação. Predominam principalmente os projetos culturais e as iniciativas ligadas à área de ciência e tecnologia. Anteriormente, a plataforma aceitava apenas campanhas no modelo “tudo ou nada”, mas recentemente passou a oferecer também a opção flexível. A taxa cobrada por essa plataforma é de 13% do valor a ser arrecadado. Artistas como Liniker e o portal Jornalistas Livres são alguns nomes que já financiaram campanhas pelo site.

Benfeitoria

Benfeitoria

Lançada também em 2011, a Benfeitoria possui foco no financiamento de projetos que gerem impactos sociais, ambientais, culturais e econômicos. A plataforma trabalha com o modelo de arrecadação “tudo ou nada” e o “financiamento recorrente”, feito a partir de colaborações mensais para o projeto, funcionando como uma espécie de assinatura. Outra opção é o “financiamento turbinado”, em que o projeto recebe uma ajuda extra principalmente na divulgação. Um diferencial interessante na Benfeitoria é que ela não cobra taxa dos projetos, apenas convida o empreendedor a fazer uma contribuição voluntária para manter a plataforma. Por outro lado, os custos das transações financeiras são repassadas ao proponente do projeto, o que sai em torno de 4% do valor arrecadado. A plataforma também oferece um atendimento personalizado para cada iniciativa e um material de auxílio para planejamento e execução das campanhas.

Vakinha

Vakinha

Lançado em 2009 no Rio Grande do Sul e considerado por muitos o primeiro site de financiamento coletivo no Brasil, o Vakinha veio com o objetivo de promover uma “vaquinha virtual”, antes do termo crowdfunding se popularizar no país. A ideia da plataforma surgiu em 2006, após uma dificuldade enfrentada pelo CEO da empresa, Fabrício Milesi, que ficou encarregado de arrecadar os presentes na forma de dinheiro para o casamento do amigo sócio-fundador, Luiz Felipe Gheller, mas não encontrou um site para ajudar na organização do valor arrecadado. Funcionando nos primeiros anos em parceria e suporte tecnológico de investidores, o Vakinha alcançou a solidez a partir de 2013 e, atualmente, é um dos maiores sites de crowdfunding do país, com mais de 400 mil projetos cadastrados e 20 milhões de reais arrecadados.

Juntos.com.vc

Juntos com vc

Se você possui um negócio social ou ONG, o juntos.com.vc pode ser a plataforma ideal para obter recursos. Um diferencial interessante é que o site não cobra comissão, o empreendedor apenas paga a taxa referente à transação financeira. As iniciativas passam por uma avaliação e um processo seletivo para subirem ao site e serem divulgados. Além de ser especializada em terceiro setor, o juntos.com.br também oferece consultoria gratuita e financiamento de parte da campanha por meio do Google Adwords. São mais de 400 projetos apoiados e 6 milhões de reais em doações. No portfolio da empresa estão principalmente as iniciativas focadas em direitos humanos, desenvolvimento social e educação.

A pequena lista que apresentamos dá uma ideia do promissor campo econômico que é o crowdfunding, que abre possibilidades ao desenvolvimento e materialização de projetos que, em outras épocas, seriam considerados inviáveis. Atualmente, inúmeras pessoas que pensam em investir em negócios próprios e ideias inovadoras podem encontrar locais de pesquisa, suporte, inspiração, parcerias, compartilhamento e concretização nessas plataformas. Em tempos de crise e recessão, é cada vez mais difícil conseguir capital para empreender e levar uma ideia adiante, e o crowdfunding tem se mostrado uma solução promissora. Todos ganharão com mais pessoas criativas capazes de colocar seus projetos em prática.

Com informações de: Sobre Administração, Sebrae, Exame, Correio Braziliense
Fotos: Reprodução

 

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