Iniciativa vem de projeto que estimula o potencial criativo e empreendedor das internas, gerando esperança e inclusão social
Por Danilo Moreira
Um projeto interessante tem proporcionado um novo direcionamento às vidas de mulheres em detenção no Pará. A Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina Empreendedora (Coostage), grupo de trabalho formado por detentas, lançou recentemente uma loja virtual no Instagram para vender artesanato. O perfil, chamado Coostafe, disponibiliza o catálogo de produtos desenvolvidos cuidadosamente pelas empreendedoras. As entregas são feitas em todo o Brasil.
Os produtos são feitos por cerca de 20 internas do Centro de Recuperação Feminina (CRF), na cidade de Ananindeua (PA). O perfil é atualizado pelas agentes prisionais que acompanham as mulheres durante as atividades dentro da instituição. Dentre os artigos comercializados estão almofadas, garrafas decorativas, guirlandas, peso de portas e muito mais. A entrega é feita para todo o país via Correios. Durante os finais de semana, as internas também comercializam os itens na Praça da Bíblia, em Ananindeua e na Praça da República, na capital paraense Belém.
De acordo com informações da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará (Susipe), as agentes penitenciárias têm desempenhado um papel de colaboração fundamental para o sucesso do negócio. A servidora Sônia Cardoso, que acompanha a Cooperativa desde a criação, afirma que é muito gratificante ver as mulheres recuperarem a independência e o significado para suas vidas com o projeto. “Além de atuarmos como agentes, acabamos fazendo parte também desse trabalho ensinando, fornecendo conselhos e organizando os pedidos”, explica.
Criada há dois anos, a Coostafe é a primeira cooperativa do país formada apenas por presidiárias, tendo atendido mais de 100 mulheres. A presidente da organização, Maria do Socorro Cruz, destaca o otimismo das detentas com a loja e comenta sobre os planos para o projeto. “Isso é muito bom para o nosso trabalho. Saber que mais pessoas vão poder conhecer nossa história e o que fazemos nos dá mais vontade para produzir. Estamos preparando novos produtos focadas nessa novidade, como luminárias e poltronas. Nos preocupamos muito com a qualidade das peças que oferecemos. A intenção é sempre melhorar e diversificar”, afirma a coordenadora.
A diretora do CRF, Carmem Botelho, reforça que a loja é de extrema importância para o trabalho dessas empreendedoras. Ela explica que o projeto acompanha o ritmo do mercado e utiliza o potencial das novas tecnologias para ampliar essa lição de transformação. “As vendas na internet vão além da geração de renda para as detentas, pois também possibilitam que a sociedade conheça o trabalho e a capacidade que essas mulheres têm de se reinventar”, diz Carmem.
O trabalho também é fruto do curso “Mulher Empreendedora”, realizado dentro do centro de recuperação. A ideia é identificar, desenvolver e fortalecer as competências de empreendedorismo das detentas. A iniciativa é uma parceria entre a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe) com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
De acordo com a consultora do Sebrae Lilian Pinheiro Dias, o curso trabalha com uma metodologia na qual são identificadas as características de empreendedorismo que cada uma das alunas possuem, e a partir daí, busca despertar nas participantes a vontade iniciar um projeto. “Aqui nós trabalhamos também a autoestima dessas mulheres e fazemos que compreendam do que elas são capazes", explica a consultora.
Exemplo disso é a detenta Maria Jusceli, de 26 anos, que pensa em abrir o próprio negócio após cumprir o restante da pena. Ela trabalha há um ano na Coostafe e afirma gostar muito do que faz. “Esse curso do Sebrae veio trazer o aperfeiçoamento que a gente precisava. Aqui eu aprendi a bordar, fazer crochê, artesanato. Com isso eu posso conseguir uma boa renda quando sair daqui”, comenta. Você pode conferir este e outros detalhes do projeto na matéria publicada na Agência Pará.
De acordo com um estudo divulgado pelo Sebrae em 2015, dos 23,5 milhões de empreendedores no Brasil, apenas 7 milhões são mulheres, o que representa 31,1% do total. O projeto é um exemplo interessante que busca aumentar a presença feminina nesta estatística. Além disso, utiliza a criatividade, um potencial empreendedor por natureza, como ferramenta de inclusão social.
Para conhecer mais sobre o catálogo de produtos, acesse o perfil @coostafe no Instagram ou por meio deste link. Quem tem interesse pelas peças também pode entrar em contato pelos telefones (91) 98030 4370 e (91) 98842 3479.
Fontes: Exame, Susipe, Agencia Pará, Coostafe (Instagram)
Fotos: Divulgação/ Reprodução - Coostafe (Instagram)