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Entrevista com Gina Levinzon e dúvidas sobre adoção

Adoção: saiba mais sobre esse importante laço de amor para milhares de famílias brasileiras

Especialista indica livros sobre adoção e fornece orientações para uma relação parental saudável

Por Danilo Moreira

Você pensa em adotar uma criança ou adolescente? Já adotou? É adotado(a)?

É normal que o tema da adoção envolva expectativas e dúvidas. O importante é sempre procurar orientação de especialistas e se informar sobre o assunto, afinal, são histórias de vida que se tornam uma só, em família.

De acordo com a (M)Dados, setor de análise de informações do jornal Metrópoles, cerca de 1.656 crianças brasileiras passaram pelo processo de adoção em 2021, 11,9% a mais do que em 2020.

Naquele ano, com as limitações impostas pela pandemia de Covid-19, o número estava em queda, mas desde 2021 vêm demonstrando recuperação. Os dados são do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Para te auxiliar com algumas dúvidas sobre a adoção, entrevistamos a psicanalista Gina Khafif Levinzon, que desde os anos 1980 atende crianças, adolescentes, pais e outras pessoas relacionadas ao universo da adoção.

Levinzon também é pesquisadora e coordena, em parceria com a analista didata e psicanalista Alicia Dourado de Lisondo, o Grupo de Estudos sobre Adoção e Parentalidade, na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP).

Em entrevista ao blog da Gênio Criador Editora, a especialista aborda sobre as questões recorrentes do processo de adoção e adaptação da criança, de que forma os familiares podem ajudar na relação de convivência, além de indicar livros sobre o assunto.

Confira a entrevista a seguir:

GÊNIO CRIADOR EDITORA — Quais foram os principais desafios na área de adoção no que diz respeito ao suporte a famílias no Brasil nos últimos anos?

Gina — Penso que, nos últimos anos, as famílias que pretendem adotar ou já adotaram encontram mais espaço para compartilhar suas dúvidas e entender melhor as condições nos diversos passos do processo.

Os técnicos jurídicos procuram identificar as motivações conscientes e inconscientes dos pretendentes e proteger as crianças, dentro do possível, de experiências frustrantes.

Já os Grupos de Apoio à Adoção reúnem pessoas que estão vivendo situações semelhantes e ajudam muito no conhecimento e preparo dos pais adotantes.

Apesar disso, acho que falta um acompanhamento psicológico mais sistemático das famílias depois que já ocorreu a adoção, como espaço de prevenção de problemas.

Quando se entende o que está acontecendo e o que é esperado, é mais fácil lidar com o que vai surgindo. Muitas vezes o que ocorre é algo normal dentro do processo de parentalidade.

A criança adotiva é uma criança como qualquer outra, mas tem uma sensibilidade maior a situações de separação, conflitos familiares, desencontros emocionais e isso demanda em certos casos uma atenção maior.

Os pais também precisam desse suporte especial quando não estão suficientemente preparados para lidar com as angustias e testes de aceitação das crianças.

Em relação às pessoas adotadas, quais são as principais demandas de auxílio ou dificuldades observadas?

Antes de mais nada, as pessoas adotadas precisam ser aceitas na sua essência.

Se há um excesso de expectativas com relação a seu comportamento e desempenho; isso pode funcionar como uma “camisa de força” que restringe sua espontaneidade e potencial.

Muitas vezes, há uma idealização por parte dos pais sobre a adoção: acreditam que com seu amor e seus ensinamentos farão da criança alguém perfeito, um modelo como imaginam.

A pessoa adotada passou por um trauma inicial na sua vida, que pode ter deixado marcas profundas, dependendo do caso. Isso vai ter repercussões em suas formas de pensar, agir, se defender, se vincular e confiar.

Ela poderá ter uma dificuldade maior na escola por ter sido menos estimulada. Poderá também apresentar questões de comportamento, por se sentir insegura ou buscar valorização e reconhecimento.

Sabemos que não há pessoas perfeitas, adotadas ou não! Poder lidar com as diferenças e a diversidade, ser olhado como alguém que tem uma especificidade, é essencial.

Os adotados na maioria das vezes apresentam dúvidas com relação à sua identidade. Eles podem ter dois casais de pais, os biológicos e os adotivos (às vezes apenas um adotivo, em casos de adoção por pessoas solteiras). As perguntas “De onde vim? Quem sou eu?” são fundantes nos adotados.

A noção de si mesmo é algo que vai levar um trajeto longo na vida para ser construído, paulatinamente.

Quais são os mitos e preconceitos sobre adoção ainda existentes no Brasil? De que forma combatê-los?

Há o preconceito de que adotar é um “problema” e os filhos adotados sempre “dão problemas”. Isso não é real. Inúmeras adoções são bem sucedidas.

Acontece que se uma criança teve uma história muito difícil antes da adoção (como no caso das maiores), os pais adotivos serão, por um tempo, mais que apenas pais, serão “pais-terapeutas” até a criança adquirir confiança no novo ambiente e estabilidade interna.

Costumo dizer que adoção não é um problema, mas uma solução, tanto para o adotado, que necessita de uma família, quanto para os pais, que têm o desejo de criar um filho que não veio deles biologicamente.

O problema são as condições sociais e econômicas presentes nas famílias de origem e que, na maioria das vezes, são responsáveis pela entrega do filho para a adoção.

Palestras, blogs, livros, informação ajudam as pessoas a terem uma visão mais realista do que é a adoção, sem idealizar demais e, ao mesmo tempo, sem desmerecer uma forma de parentalidade, que é muito valiosa para pais e filhos.

O que os pais realmente devem levar em conta ao determinar o perfil da criança que desejam adotar?

Os pais podem descobrir que se sentem em condições de amar e cuidar de uma criança dentro de um espectro maior de possibilidades do que imaginavam.

Mas também há o perigo de ampliar o perfil da criança que pretendem adotar sem considerar seus limites e sentimentos mais íntimos, o que pode levar a frustrações e obstáculos no relacionamento com ela.

As “devoluções de crianças”, tão duras para todos os integrantes do processo, mostram a importância do cuidado e preparação dos pais pretendentes à adoção.

Como os pais precisam interagir com a criança adotada com idade mais avançada?

Será necessário se informarem dos desafios que provavelmente encontrarão, como a necessidade de criar um espaço de confiabilidade, a ser construído aos poucos, com muito amor, paciência, tolerância, persistência e limites quando necessário. Ajustar as expectativas de pais e filhos à realidade possível é primordial.

No caso de situações específicas, como a adoção inter-racial, que auxílio é possível fornecer para essas famílias?

Na adoção inter-racial, por exemplo, os pais precisam ser orientados a ajudar a criança a construir uma imagem positiva de sua raça, oferecendo a ela contato próximo com outras pessoas e crianças parecidas, para ajudá-la a lidar com o preconceito racial.

É comum que pais adotivos se preocupem de que forma contar à criança sobre a adoção e o que compartilhar com ela. Quando contar?

Costumamos dizer: conte o mais cedo possível, para que ela tenha a lembrança do “sempre soube”.

Comece contando sobre a adoção de forma lúdica, que é uma forma mais próxima da linguagem da criança, o que facilita a sua compreensão e aceitação.

Às vezes, a criança possui uma história anterior muito complicada, e os pais ficam em dúvida sobre como preservá-la desses detalhes. Até onde contar?

Cada caso é um caso. Os pais precisam poder compartilhar suas dúvidas com pessoas que as ajudem, sejam psicólogos, técnicos de outras áreas relacionadas ou outros pais que já passaram por essas experiências.

Os traumas sofridos pelas crianças (em decorrência de maus-tratos ou abuso, por exemplo) podem deixar grandes buracos, que precisarão ser fechados aos poucos, com a experiência de sintonia entre os integrantes da família, e a abertura de espaço para reflexão, diálogo e elaboração das experiências dolorosas.

Observamos que o medo do abandono e da rejeição poderá estar presente no adotado, em maior ou menor grau, em função de sua história anterior de separação dos genitores.

Identificar esses temores ajuda a criar condições para o filho se sentir mais seguro, além de possibilitar aos pais saberem melhor como lidar com essas dificuldades.

Gina Levinzon Gina Levinzon atende crianças adotadas e familiares há mais de 30 anos (créditos: acervo pessoal)

Qual é o papel de familiares próximos (como irmãos e avós) no fortalecimento dos laços entre pais e filhos adotados?

O adotado pode não ser o primeiro filho. Adotados ou biológicos, os mais velhos podem se alegrar com a nova criança ou temer perderem seu lugar dentro do mundo interno dos pais.

Os pais são aconselhados a conversar com os filhos mais velhos e incluí-los no processo de recepção e adaptação da criança. Podem levá-los consigo ao irem buscar a criança pela primeira vez e dar-lhes um papel de destaque no acolhimento do novo irmão.

É tarefa importante dos pais dar atenção aos filhos já existentes de modo que eles não se sintam relegados a um segundo plano. A questão da adoção também deve ser explicada de modo simples, para as crianças entenderem que ter um irmão adotado é algo natural.

Há casais que adotam uma criança por motivo de infertilidade, e em seguida têm um ou mais filhos biológicos. Isso ocorre em vários casos porque havia dificuldades emocionais inconscientes, que impediam a gravidez e foram superadas com o filho adotivo.

Nessas situações, é comum haver uma preocupação do casal quanto a possíveis diferenças de tratamento entre o filho adotivo e os biológicos. É importante procurar, dentro do possível, equalizar a atenção e o cuidado a todos os filhos, para evitar problemas futuros.

A ajuda de profissionais habilitados pode ser de grande benefício, quando os pais sentem que não estão conseguindo lidar com a situação.

O apoio de avós e familiares facilita a adaptação da criança e posterior vida em família. Em alguns casos, eles demonstram resistência em relação à adoção e necessitam de tempo para que possam se preparar para receber e amar a criança que chegou.

Como a Psicanálise tem ajudado pais e filhos adotados? Há diferenças de abordagem em relação à idade da adoção?

A Psicanálise é de grande ajuda e fornece, antes de tudo, um conhecimento maior sobre os aspectos conscientes e inconscientes que estão presentes nos diversos membros da família.

Ela auxilia a identificar com mais clareza o que se sente, imagina, do que se tem medo, como é o funcionamento psíquico de cada um. Dessa forma, pode-se criar um espaço psíquico mais harmônico e saudável.

Quando é necessário, o tratamento psicanalítico possibilita que as dificuldades possam ser superadas e que todos encontrem condições para uma ampliação de suas potencialidades.

Quanto mais cedo se puder contar com a ajuda terapêutica, mais fácil será o trabalho e os resultados poderão ser satisfatórios mais rapidamente. Há, no entanto, variações a cada caso.

Na área de pesquisa acadêmica, é fácil encontrar materiais sobre o assunto no Brasil? Quais são os principais autores que costumam ser suas referências?

Hoje em dia existe muito material escrito a respeito do tema, tais como livros, dissertações, teses e artigos.

Um livro que recomendo para pesquisas sobre o assunto, com um conteúdo bem completo, é “Guia de adoção: no jurídico, no social, no psicológico e na família”, de Cynthia Ladvocat e Solange Diuana [Editora Roca, 2014].

Nele você encontra artigos da maioria dos especialistas renomados, que têm produzido materiais sobre esse tema.

Falando em livros, de que forma eles podem contribuir para a informação de pais e filhos adotados?

Penso que os livros são de grande utilidade. Informam aos pais sobre o que se pode esperar, fornecem um entendimento do que está acontecendo, orientam, abrem espaço para reflexões.

Para os adotados ocorre o mesmo. Tenho visto muitos, quando adultos, procurarem em livros um espaço para entender a sua história.

Livros para crianças que expliquem o que é adoção também são de grande valia. Poderia haver mais livros sobre isso no mercado.

Veja a seguir os livros de Gina Khafif Levinzon sobre adoção, com comentários da autora:

A criança adotiva na psicoterapia psicanalítica

Livro A criança adotiva na psicoterapia

“O livro mostra como é a criança no processo de psicoterapia psicanalítica. É um livro para terapeutas em que há muito material clínico comentado passo a passo.”

A obra foi publicada pela primeira em 1999 pela Editora Escuta, mas é possível encontrar edições mais recentes nas livrarias.

Adoção

Capa do livro Adoção, de Gina Levinzon

“Esse livro aborda os principais temas do mundo adotivo. Apresenta muitas vinhetas de histórias de adoção nos seus mais variados ângulos. Pode ser lido tanto por profissionais quanto por pais adotivos.”

A edição mais recente da obra foi publicada em 2019 pela Editora Artesã.

Tornando-se pais: a adoção em todos os seus passos

Capa do livro Tornando-se pais

“Esse é um livro para pretendentes e pais adotivos, sendo uma espécie de guia. Escrito em linguagem bem simples e direta, a obra aborda os pontos mais importantes relativos à adoção. Pode ser utilizado também por profissionais no acompanhamento e preparação para a adoção.”

O livro da foto é a segunda edição atualizada, publicada em 2020 pela Editora Blucher.

Adoção: desafios da contemporaneidade

Capa do livro Adoção: desafios da contemporaneidade

Organizado em parceria com a analista didata e psicanalista Alicia Dorado de Lisondo, reúne estudos acerca da adoção, desde o encontro da nova família até a adaptação da criança e de seus pais adotivos.

“Esse livro contém artigos meus e de diversos autores sobre adoção, com temáticas atuais variadas.”

A obra foi publicada em 2018 pela Editora Blucher.

Independentemente da sua relação com o tema da adoção, esperamos que essas informações te ajudem a refletir sobre o assunto.

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Com informações de: Revista Crescer

Blog Gênio Criador

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